sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Parábolas de Jesus - JUSTIÇA

FARISEU e o PUBLICANO Lc 18:9-14

E ele contou esta parábola para certas pessoas que se consideravam justa e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo, para orar; um era fariseu, e o outro, coletor de impostos.

O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem mesmo como este coletor de impostos. Jejuo duas vezes na semana, e dou o dízimo de tudo quanto possuo.

O coletor de impostos, porém, estando em pé, de longe, nem ousava levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus tem misericórdia de mim, um pecador!

Eu vos digo que este desceu justificado para sua casa, e não aquele outro; pois todo o que se exalta será humilhado, e aquele que se humilha será exaltado.

Esta é contada imediatamente após a parábola do JUIZ e a VIÚVA, em que se fala da qualidade da fé. A parábola está inserida no Evangelho de Lucas juntamente com outros temas que tratam da oração, mas Lucas acrescenta uma introdução para nos informar que o tema principal da parábola é justiça. Jesus percebendo que as pessoas que ficavam ao seu redor confiavam mais na sua própria justiça do que na misericórdia de Deus. Não se deve ignorar esta introdução.

Pelo título, somos apresentados a dois personagens: um fariseu e um publicano, e por isso mesmo, num 1º MOMENTO iremos listar aspectos positivos e negativos destes dois e, assim, melhor conhecê-los.

FARISEU: quem é?

- acreditavam na ressurreição, na vida eterna, o que os possibilita compreenderem os ensinos de Jesus acerca da vida espiritual.

- cumpriam as normas, seguiam rigidamente a Lei de Moisés, guardavam zelo pelas tradições teológicas, cumpriam os rituais para o culto, ostentavam devoção e fervor.

- em Lc 13:31 um grupo de fariseus adverte Jesus das intenções de Herodes.

-em At 15:5 a conversão de um grupo de Fariseus para o cristianismo primitivo

- Paulo, um dos maiores apóstolos e divulgadores da Boa Nova, era originário do grupo de religioso dos fariseus. Soube redirecionar sua cultura e conhecimento a uma nova mentalidade. Paulo reconhece: “o saber envaidece, mas o amor edifica.” (1 Co 8 1b), mostrando que o que faltava era o amor ao próximo aliado ao conhecimento de que os fariseus tinham tanto orgulho.

- Mt 23 Jesus os chama de sepulcros caiados: por fora belos, mas na verdade ocultando costumes dissolutos, mesquinhez, secura do coração e, sobretudo, orgulho.

- em várias ocasiões foram chamados de hipócritas por Jesus: homens cultos e conhecedores das Escrituras, mas ao invés desta erudição leva-los ‘a verdade, a maior parte deles seguia por caminhos equivocados.

PUBLICANO: quem é?

- arrecadadores de impostos públicos exigidos pelos romanos.

- considerados pelos de sua própria raça como traidores (por trabalharem para Roma), ladrões (por tomarem parte da arrecadação) e impuros (por transformarem a cobrança de impostos em uma questão religiosa, encarando-a contrária ‘a lei).

- solitários e desprezados por todos

- Zaqueu e Mateus e suas histórias pessoais são bons exemplos de redirecionamento de mentalidade.

2º MOMENTO: leitura da parábola.

“Dois homens subiram ao templo”: é uma parábola acerca da adoração pública com orações individuais. O fariseu e o publicano foram ao Templo para orar, mas a motivação de cada um era diferente.

Os discípulos de Jesus cresceram numa cultura que dava grande importância ‘a oração. Conheciam de cor algumas orações, viram seus pais e familiares orar e, nas sinagogas e praças, com certeza já tinham ouvido os fariseus orando. Mas quando ouviram Jesus orar, perceberam uma nova possibilidade de comunicação com Deus, ao ponto de lhe pedirem: “Sr, ensina-nos a orar.” (vide parábola do Amigo Importuno)

“O fariseu, estando em pé, orava consigo” e “O coletor de impostos, porém, estando em pé, de longe”: os dois desejando ficar fisicamente afastados. Para o fariseu era uma declaração de sua importância, isolado para não ser contaminado pelos injustos que estavam ao seu redor. Para o coletor de impostos não havia desejo de ser ouvido por ninguém a não ser Deus, afastado do grupo, não por indiferença, mas por não se achar digno de se colocar junto com o povo de Deus próximo ao altar.

“fariseu orava consigo desta maneira” e “publicano nem ousava levantar os olhos ao céu”: o primeiro está preocupado em lembrar-se de suas virtudes, confia apenas em si mesmo e acha que nem precisa de Deus ‘a escuta-lo. O segundo está plenamente consciente de sua posição em relação a Deus, em humildade extrema, na vergonha de si mesmo e tocado pelo arrependimento.

3º MOMENTO: O texto da oração

O fariseu usa o pronome eu quatro vezes; declara sua própria justiça alcançada pelos seus esforços e feitos; não há reverência a Deus ou agradecimento, nem humildade ou confissão de pecados. Ora em voz alta para que os demais o escutem, oferecendo-lhes desta forma, instruções sobre justiça, sendo juiz de si mesmo e dos outros. Revela bastante de sua personalidade pelas palavras que declama em uma auto-propaganda e ostentação, onde se congratula consigo mesmo. Usa a oração para acusar publicamente o coletor de impostos e lhe faz críticas através de sua lista preconcebida de julgamento e estereótipos. Vangloria-se não apenas de ter guardado a Lei, mas de ter excedido as suas exigências, se comparando aos grandes exemplos da história de Israel, como Moisés e os profetas, pois ele é tão bom que jejua duas vezes por semana, ao invés de duas vezes ao ano como todos e oferece o dízimo sobre tudo o que possui, e não apenas sobre as mercadorias convencionadas pela lei.

O publicano reconhece-se como pecador em busca de perdão, demonstra o reconhecimento da misericórdia de Deus numa oração curta e simples, verdadeira e honesta. Quando começa sua petição, bate no peito. Esta ação dramática é postura típica de mulheres e somente em outra ocasião será mencionada: após a crucificação, em Lc 23:48, “toda a multidão vai para casa batendo no peito”, demonstrando a magnitude da dor para homens usarem este gesto junto ‘a mulheres. O publicano bate no peito revelando seu remorso, anseia pelos benefícios de uma expiação, clama com arrependimento e esperança.

4º MOMENTO: leitura da fábula sobre o que aconteceu ao término da oração dos dois personagens.

Quando o Fariseu terminou a sua oração, meteu a mão no bolso e com aparato tirou uma moeda de ouro que deixou cair com barulho, na caixa das esmolas. Voltou-se para sair do templo e reparou que o Publicano de cabeça baixa mexia num saco de pano, de onde tirou uma pequena moeda, que com delicadeza depositou na caixa das esmolas.
O Fariseu saiu então do templo e ficou a aguardar o Publicano.
Quando este saiu, humilde e contrito, o Fariseu perguntou-lhe com um ar importante:
- Quanto deste, ali no templo?
O Publicano com a cabeça baixa, respondeu:
- Dei tudo quanto aqui tinha. Tudo o que tenho me veio do Senhor e Ele nunca me falta com o indispensável à minha vida.
Levantando a cabeça, fitou o Fariseu com uns olhos límpidos e calmos, com um sorriso alegre e tranquilo, e dizendo-lhe:
- A paz do Senhor esteja contigo! Afastou-se, caminhando.

Num primeiro momento, surpreso, o Fariseu reparou na paz e tranqüilidade que emanava daquele homem, na sinceridade com que lhe tinha falado e na leveza do andar, parecendo que quase não tocava o chão. No entanto, rapidamente se refez, não se deixou comover e pensando para si próprio, disse em voz alta:
- Coitado, pobre homem inculto. Não sabe que eu como sou, praticando a lei rigorosamente, tenho sempre a paz do Senhor comigo.
Começou então a andar no caminho para sua casa, cabeça erguida, sem dar atenção àqueles que na rua pediam, que o cumprimentavam, que lhe sorriam.

Mas agora algo o inquietava. Alguma coisa penetrara seu coração e não tinha mais certeza de nada. Nunca na sua vida, pensou, tinha conseguido ter tal olhar, tal sorriso ou apresentar aquela paz, aquela tranquilidade, aquele amor.
Parou e sentou-se à beira do caminho, pensando sobre o ocorrido.
De repente, tocaram-lhe no ombro e ao levantar os olhos, deparou com o Publicano mais uma vez, que com uma voz doce lhe perguntava:
- Sente-se mal, precisa de ajuda, posso fazer alguma coisa por ti?

Mal refeito da surpresa, agradeceu e disse que não, não precisava de nada. Mas neste momento havia recebido resposta à sua inquietação. Levantou-se e começou a caminhar de volta ao templo. Pelo caminho, mostrou-se diferente. A um pobre homem quase sem roupa, deixou a sua túnica, e ainda lhe perguntou: - Sente-se mal, precisa de ajuda, posso fazer alguma coisa por ti? A outro que tinha fome, deixou as moedas que levava, e também lhe perguntou: - Sente-se mal, precisa de ajuda, posso fazer alguma coisa por ti? A um que estava descalço, deixou as suas sandálias, a uma mãe com filhos famintos, como não tinha mais nada com ele, deixou os seus anéis e colares, sempre indagando: - Sente-se mal, precisa de ajuda, posso fazer alguma coisa por ti?

Na porta do templo, parou, mas não entrou. Ficou ali mesmo, baixou a cabeça e disse:
- Perdoa-me, meu Deus, que nada sou. Não sou nem digno de entrar no Teu templo, como o Publicano, porque sou maior pecador. Acredito na Tua misericórdia e sei que me perdoarás, por isso Te peço que me ajude a mudar de vida, pois também eu reconheço agora, que tudo o que tenho, me vem de Ti e a Ti pertence e que me deste não só para mim, mas também para ajudar os que precisam. A Ti, Senhor, confio a minha vida, pois sei que contigo nada me faltarás.

Silenciou e aguardou uns instantes. Levantou-se e sentiu imediatamente que estava diferente, percebendo e deixando-se envolver por uma paz e tranquilidade, que nunca tinha experimentado. Agradecido a Deus, regressou para casa, espalhando alegria e paz pelo caminho e ao chegar, deu a Boa Nova a todos os seus.

No Céu a alegria era imensa e o Pai disse a Jesus:

- Foi boa idéia, Meu Filho, te teres feito passar por Publicano. Salvaste mais um homem.

5º MOMENTO: reflexo de nossas escolhas ainda farisaicas é feito a leitura de reportagens retiradas da mídia em geral sobre: nossa tendência de usarmos máscaras e vernizes, escondendo nossa personalidade. Valores que escolhemos e ensinamos aos nossos filhos, onde aplaudimos as aparências. Prioridades refletidas na busca de uma boa situação financeira, ao invés da formação moral. Nós e nossos próximos sendo atendidos na satisfação de caprichos e vaidades, contrários ao exemplo e a renúncia.

Do mesmo modo, na mídia também encontramos bons exemplos de pessoas já despertas que, indo na contramão da maioria, usam de seus talentos e dons para o crescimento da humanidade.

6º MOMENTO: de volta a parábola, vamos perceber que o coletor de impostos alcança a sua petição. Agora os dois descem do Templo, mas o coletor de impostos é mencionado em primeiro lugar. O fariseu se impressionou com seus feitos, cumpriu sua responsabilidade e, sob sua ótica, fez muito bem, não precisando que Deus fizesse algo por ele. Ele justifica a si mesmo. O publicano saiu justificado por Deus, demonstrando as qualidades da verdadeira grandeza, cobrando de si mesmo, fazendo autocrítica e iniciando desta forma, o processo de reparação.

O provérbio de Jesus dá a finalização ‘a parábola: focaliza seu principal tópico, a justiça. No ESE, encontramos o exame da questão no capítulo 7, Bem Aventurados os pobres de espírito, itens 3,4,5 e 6. No LE, questões 893, 895 e 896.

7º MOMENTO: finalização com leitura do texto.

Vagas no Reino de Deus

Chegou às minhas mãos um documento confidencial. É uma circular interna do Céu que descreve o perfil das pessoas que Deus procura para encarnarem os valores do seu Reino na terra.

“Procuram-se mulheres e homens que não vivam escravizados pelas mesmas obsessões que dominam as pessoas: riqueza, fama e poder.

Serão dispensados aqueles que correm alucinados, sempre perguntando: ‘Que comeremos, que beberemos? Ou: com que nos vestiremos?’.

Não serão recebidos currículos de quem gosta dos lugares de honra, e de posar ao lado de pessoas consideradas importantes. Nenhum entrevistado pode vangloriar-se de seus feitos. Sugere-se que seja considerado apenas o que se enleva com a grandeza das galáxias ou com a fragilidade das margaridas. O candidato pré-aprovado deve estagiar em algum deserto e será despedido sumariamente aquele que não souber ouvir a voz dos ventos mais delicados, não se extasiar com o pôr-do-sol que colore o céu de vermelho e não se calar diante das constelações que enfeitam as noites escuras com seus diamantes.

Para ocupar a posição de apóstolo, só se admitirá o que abrir mão deste título; será reprovado o candidato que afirmar, em algum ponto da entrevista, que se sente honrado com a possibilidade de continuar com a missão apostólica. O entrevistado precisará revelar discrição e total desinteresse para com os louvores humanos. Não será admitido, em hipótese alguma, qualquer um que, mesmo de relance, demonstre estar cogitando um projeto próprio. Está desqualificado o que insinuar, até inconscientemente, que gosta de dinheiro. Será desprezado quem se esforçar para mostrar uma espiritualidade mais intensa que a maioria das pessoas.

Há grande necessidade de profeta, mas se exigirá um rigor maior no preenchimento dessa posição. O profeta será testado em sua capacidade de sentir o coração de Deus. Numa primeira avaliação, o candidato será levado a conviver com os sofrimentos mais cruciantes da humanidade. Será despedido sumariamente aquele que oferecer explicações teológicas para a dor universal. Antes, requer-se que o profeta saiba deitar seu ouvido no coração de Deus e sinta seus anseios e vibrações pela raça humana. Reprove-se o que não verter lágrimas; não soluçar com a morte desnecessária de crianças; não se indignar com a volúpia dos que acumulam fortunas, não protestar contra a indiferença dos confortáveis; e não lutar contra os preconceitos racial, cultural e de gênero.

O candidato à evangelista deverá preencher os seguintes critérios:

1) Amar as pessoas, mais do que seu ofício. Portanto, é bom observar como reage ao sucesso ou ao fracasso. Será reprovado todo aquele que demonstrar extrema alegria pelo bom desempenho de alguma empreitada. Será descartado, igualmente, o que se entristecer com o baixo rendimento de seus esforços. Somente estará apto para o ofício de evangelista quem aprender a amar, mesmo quando as pessoas resistem à sua mensagem. Ser fiel é mais importante que bem sucedido.

2) Não se aceitará o orador empolado, que repita clichês, ou que maltrate o bom senso das pessoas com frases prontas. Quem fizer promessas irreais, responder ao drama humano com simplismos; se usar a mensagem do Evangelho com o intento de subornar ou coagir o amor das pessoas, será desconsiderado.

3) Terá desclassificação imediata, quem fizer convite de conversão, apelando para as emoções. A entrevista qualificatória deve terminar no instante em que se perceber que o candidato à evangelista gosta de manipular e sensibilizar as pessoas com choros e frenesis.

Há vaga para pastor. Contudo, não se deve apressar o preenchimento dessa função. Só será admitido, candidato que já tenha caminhado extensamente com o povo. É bom que conheça todo espectro social e saiba transitar entre ricos e pobres; doentes crônicos e atletas profissionais; patrões e empregados. Como os pastores não podem viver trancados em gabinetes, é de bom alvitre que se avalie como se comporta quando prega para grandes auditórios, e como trata indivíduos. O que demonstrar maior traquejo com multidões, mas evita o contato pessoal, será repudiado. Todo pastor precisa caminhar de mãos dadas com famílias enlutadas; precisa saber esperar pela notícia de morte ao lado das ovelhas que choram no corredor da UTI; precisa conversar pacientemente com os jovens que lutam com sua sexualidade; e precisa abraçar carinhosamente os idosos.

Existe uma grande necessidade de mestre. Mas, para essa função, o candidato precisa apresentar seu currículo acadêmico, que será analisado de acordo com a capacidade e oportunidades de cada um. Contudo, o futuro mestre não pode valorizar exageradamente a letra a ponto de matar o espírito dos textos. Ele deve revelar disposição de defender a verdade, principalmente quando ela estiver a serviço da vida. Será desclassificado

aqueles que, na defesa de suas convicções, demonstrar descaso existencial. Deve-se pedir que cada candidato escreva ressonâncias a poesias, pintura ou música; deverão ficar de fora, os que mostrarem rigor exagerado na análise técnica da obra. Não serve para essa função o que perde a beleza subjetiva, aquela que só se percebe com o coração. Quando o entrevistado comentar que domina um determinado assunto, ficará sob suspeição até o final da entrevista. A título de exercício, em cada argumentação do futuro mestre, é mister que haja contestação com pressupostos diferentes. Caso se mostre intolerante, ou não ceda na arrogância de seu conhecimento, será reprovado”.

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