terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Parábolas de Jesus - INTRODUÇÃO ao CURSO

PORQUE JESUS FALAVA POR PARÁBOLAS?

As parábolas nos mostram a genialidade de Jesus e sua estatura intelectual.
Para se conhecer mais e melhor a Jesus, precisamos entender suas histórias, que se tornaram o artifício de tantas de suas lições.

Parábola é uma comparação, é uma história que coloca uma coisa ao lado da outra com o propósito de ensinar. Não são fábulas. Não estão longe da realidade. São protagonizadas por homens e falam de situações familiares, cotidianas, comuns à época. Sua força está justamente em serem concebíveis e na possibilidade das circunstâncias que elas descrevem.
Jesus desejava fazer com que os homens despertassem para a realidade espiritual e escolhia abordagens se valendo do conhecimento deles do mundo para falar do porvir.

Jesus não era um educador no sentido comum da palavra. A própria história nos mostra gênios que superaram a si mesmos e a suas deficiências de formação cultural: Sócrates, Platão, Hipócrates, Gandhi, Confúcio, Moisés, Maomé, Agostinho, Newton, Shakespeare, o que nos mostra que não são os títulos de doutor que fazem a diferença, mas a direção e estrutura do ensino que determinam quem é mestre.

Cada parábola tem uma idéia principal e dependendo da sua tendência teológica, o entendimento pode ser direcionado para os objetos representarem diferentes coisas, aparentemente sem destruir a coerência da história. Um bom exemplo é Agostinho e sua interpretação da parábola do BOM SAMARITANO, onde o homem é Adão, os ladrões são Satanás, Jesus é o samaritano, enfaixar as feridas é conter os pecados e tirar as roupas do homem é tirar sua imortalidade.

O objetivo maior das parábolas é nos capacitar a pensar. Jesus está nos oferecendo meios para aprender, pois estávamos habituados que pensassem por nós, que regessem nossas vidas e decidissem nossos destinos, sem analisar ou questionar. Encarcerados intelectualmente, criávamos obstáculos em nossa rigidez de pensar e compreender o mundo. Através das parábolas, Jesus conduziu-nos a dúvida, deixando-nos muitas vezes sem resposta, obrigando-nos a pensar, abrindo assim nossos horizontes e excitando nosso interesse. As parábolas não trazem respostas prontas, muitas delas nem são finalizadas. A maioria daquelas pessoas não tinha cultura e, provavelmente, nenhum interesse em aprender nada além do que seu trabalho e a sobreviver. Mas Jesus despertava algo em cada uma delas, estimulando os pensamentos, conduzindo-nos ao esforço e perseverança, e, acima de tudo, mudando nossos paradigmas, a nossa mentalidade restrita. Transformando nossa essência sem destruir nossa personalidade, reescrevia-nos a nossa história, agora enriquecida e amadurecida, sem receio de revisar dogmas e conflitos, mas aprendendo a ter liberdade de consciência. Basta lembrar-mos de Pedro, de rude pescador, transformado em grande pensador e divulgador da Boa Nova.

Jesus sabia que nem todos o compreenderiam. Nem todos estão preparados ou desejam mudança. Mesmo em nossa época atual, isto acontece. Jesus aguardou que seu grupo estivesse mais desperto e só começou a falar por parábolas no terceiro ano de sua missão. A mensagem tinha que ser por instrução paciente. Os milagres e curas feitas até então não poderiam forçar este entendimento, serviam para chamar atenção e mostrava do que somos capazes.
Ao falar a primeira parábola, a do SEMEADOR, os doze pedem a Jesus para explicá-la. Jesus responde: Vocês não entendem? Mc 4:13. Aqueles que deveriam entendê-la, não conseguiram.
Em Mt 13:10, os discípulos perguntam: Por que falas ao povo por parábolas? Em outras palavras, eles estavam perguntando porque você não diz simplesmente o que quer dizer? Então, o próprio Jesus admite que o uso de parábolas evitaria que muitas pessoas entendessem seus ensinos e que esta era sua intenção. Leia Mt 13:11-14 e ESE c. XVIII, item 13,14 e 15. Uma parte dos seguidores de Jesus ainda não tinham condições para iluminação, permaneceriam rígidos em seus pensamentos e preconceitos, presos a letra e aos rituais por mais algumas encarnações. Apenas uma minoria foi capaz desta mudança de paradigma. Jesus respeitou o momento individual de cada um e também permitiu que sua mensagem chegasse até nós quando, finalmente, poderíamos compreendê-la. O Evangelho foi diversas vezes reescrito, interpolado, manipulado, mas nas parábolas ninguém conseguiu mexer.

Como resultado de sua psicologia preventiva e educacional, Jesus transformou os homens que se permitiram segui-lo, em pessoas saudáveis, fiéis às suas verdades, que se relacionam com solidariedade e unidade, que vêem o sofrimento sob outra perpectiva, aprendendo a trabalhar as dores e frustrações como experiência para metas existenciais, com ânimo e determinação para superá-las.

Quem se interiorza, acha tempo para si próprio, conhecendo-se a si mesmo e encontrando desta forma equilíbrio para seus pensamentos e decisões. Desta forma, aprenderemos a viver no mundo, não deixando que as tensões exerçam controle sobre nossa inteligência, nem nos tornando lixos emocionais e puros reflexos de nossa sociedade competitiva e predatória. Como Jesus, poderemos dizer: "Venci o mundo", vivendo com consciência e com metas estabelecidas, despertos e não distraídos.



Bibliografia do curso:
A PEDAGOGIA DE JESUS José Herculano Pires
http://www.esnips.com/doc/74aa8f97-ad9f-4dd7-94cf-ff52d9f7ba05/A-Pedagogia-de-Jesus

HISTÓRIAS QUE JESUS CONTOU Clóvis Tavares
http://www.esnips.com/doc/13ab8545-3298-4381-987e-b91217f2e57c/Hist%C3%B3rias-Que-Jesus-Contou

A SABEDORIA DAS PARÁBOLAS Huberto Rohden
O SERMÃO DO MONTE Huberto Rohden
http://www.planetanews.com/autor/HUBERTO%20ROHDEN

AS MARAVILHOSAS PARÁBOLAS DE JESUS Paulo Alves Godoy
http://br.gojaba.com/book/820307/AS-MARAVILHOSAS-PARABOLAS-DE-JESUS-PAULO-ALVES-GODOY

PARÁBOLAS DE LUCAS Kenneth Bailey
https://ssl551.websiteseguro.com/vidanova1/ecommerce/produtos_descricao.asp?lang=pt_BR&codigo_produto=472

MANUAL BÍBLICO DE HALLEY Henry Hampton Halley
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=646601&sid=2202191321
01025854059524960&k5=1B5EA833&uid=

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Parábolas de Jesus - EVOLUÇÃO

Esta é a aula de encerramento do curso de Parábolas de Jesus. Com ela, além da interpretação do texto, faremos no final, um apanhado geral do conhecimento adquirido pelo estudo das demais parábolas.

A VIDEIRA E SEUS RAMOS Jo 15:1-8

Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o viticultor.

Toda vara em mim que não dá fruto, ele a corta; e toda vara que dá fruto, ele a limpa, para que dê mais fruto.

Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado.

Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim.

Eu sou a videira; vós sois as varas. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.

Quem não permanece em mim é lançado fora, como a vara, e seca; tais varas são recolhidas, lançadas no fogo e queimadas.

Se vós permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e vos será feito.

Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim serão meus discípulos.

É a semana final de Jesus em Jerusalém. Em Jo 14:21-26, Jesus dá as últimas instruções aos discípulos. Apenas João nos detalha estas instruções e finaliza com a mensagem de conforto através da parábola da Videira.

Nas religiões que cercavam a antiga Israel, a videira era considerada uma árvore sagrada, até mesmo divina. O Antigo Testamento possui inúmeras citações. Na abertura e apresentação do Livro dos Espíritos foi recomendado colocar o desenho de uma videira como representação do homem e sua evolução.

Em Isaías 5, Deus compara a própria nação de Israel como uma videira, desejando que este povo produzisse os seus frutos para que Deus fosse conhecido entre todas as nações.

A Videira: Jesus usando uma planta muito conhecida e cultivada pelo povo para falar de sua relação conosco e da nossa com ele. Qualquer um conhecia o desenvolvimento, os cuidados e segredos para sua produtividade.


1º MOMENTO: “Eu sou”, Jesus começa se apresentando como a videira verdadeira plantada pelo Pai. Segundo ele, o Pai é o agricultor, ou seja, existe um direcionamento de Deus, onde ele planejou, executou e, já que por meio de Israel não deu certo, envia ao mundo Jesus para que o fruto da salvação seja conhecido e provado por todos. A salvação era um tema muito discutido, pois se aguardava para qualquer instante o final dos tempos. Com a interpretação da Doutrina dos Espíritos, atualizando esta compreensão, entendemos salvar-se como situar-se, percebermos nossa posição no mundo e o que devemos fazer para nos melhorarmos.

Toda vara em mim que não dá fruto”: o tronco da videira não produz folhas ou frutos, somente os ramos. Os ramos devem permanecer ligados à videira, eles não têm vida em si mesmo, não se mantém vivos sozinhos. Dependem da seiva e da conexão ao tronco. No momento que o ramo deixa de estar ligado na videira, ele seca e morre.

ele a corta”: separa do grupo para não desviar a força vital da produção. Mais adiante, esta etapa é reforçada por ações categóricas e enfáticas: CORTA; TIRA; LANÇADO FORA. Não há hipótese, Deus poda independentemente do que desejamos afinal ele sabe do que precisamos.

A PODA, o corte e a limpeza, embora dolorosa, são necessários, pois muitas coisas sugam nossa força e nos impedem de nos dedicarmos integralmente à produtividade. Retiramos nossas imperfeições, podando brotos defeituosos para que outros venham vigorosos e dêem mais frutos. De poda em poda vamos nos aperfeiçoando. Renovação feita através de limpeza, muitas vezes dolorosa, mas benéfica e necessária.

toda vara que dá fruto, ele a limpa, para que dê mais”: os ramos são aparados para que a vitalidade da videira não seja desperdiçada, preparando o ramo para ser o mais eficiente possível.

Vós já estais limpos”: identifica aqueles que já dão frutos, que o Pai já havia limpado e preparado, por isso, assimilam o que Jesus diz.


2º MOMENTO: PERMANECER. Jesus leva isto tão a sério que repete oito vezes a condição de se permanecer nele. Permanência em Jesus é comunhão com ele. É não permitir que qualquer área de nossa vida fique sujeita ao nosso ego, aos nossos caprichos e desejos. Quem está em comunhão com ele, não tem como não dar frutos.

Nenhum ramo pode dar fruto se não permanecer ligado à videira. Através de Jesus é que somos capazes de produzir nos moldes de que o Pai necessita. Se nos dissociarmos, nosso discernimento perde o foco, ficamos distraídos e passamos a produzir somente as folhas, não chegando a etapa dos frutos.

Numa colheita abundante esperam-se frutos e não folhas. Na parábola da figueira estéril o que foi procurado foram os frutos. Embora a aparência da árvore fosse boa, Mateus nos diz que a árvore era bonita, o que se quer para saciar a fome são os frutos.


3º MOMENTO: A lei de Deus é evolutiva, ascensional: quem é bom, deve se tornar melhor. Então, COMO DAR FRUTOS? Sendo nós os ramos, precisamos de nos desenvolver, de crescer e frutificar. Abastecidos pelo caule e pela raiz, este desenvolvimento, crescimento e frutificação é conseqüência de um trabalho individual. Recebemos o alimento, a palavra de Jesus, e temos que produzir o fruto correspondente: o nosso crescimento espiritual. Muitas vezes há condição de se produzir mais do que se está produzindo e através da poda, que nada mais são do que a correção de nossos atos e provas que necessitamos vivenciar pelas múltiplas existências, vamos desenvolvendo nosso potencial.


4º MOMENTO: vamos cultivar uma videira e, nas folhas que a compõem, iremos escrever os frutos adquiridos com este estudo das parábolas.







Esta é a videira, suas folhas e seus frutos representados pelas palavras nas folhas. Uma vez carregada de folhas, cabe a cada um de nós fazer frutificar realmente.




Obrigado a este grupo (e mais alguns que não aparecem nesta foto) pela oportunidade deste estudo, e com isso, crescer na compreensão de Jesus e seus ensinamentos.




Parábolas de Jesus - ESFORÇO

OVELHA PERDIDA
Mt 18:12-14
Que vos parece? Se alguém tiver cem ovelhas, e uma delas se extraviar, não deixará as noventa e nove nos montes para ir buscar a que se extraviou?
E, se acontecer achá-la, em verdade vos digo que maior prazer tem por esta do que pelas noventa e nove que não se extraviaram.
Assim também não é da vontade de vosso Pai que está nos céus, que venha a perecer um só destes pequeninos.
Lc 15:4-7
Qual de vós é o homem que, tendo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto, e vai atrás da perdida até que a encontre?
E achando-a, põe-na sobre os ombros, cheio de júbilo;
e chegando a casa, reúne os amigos e vizinhos e lhes diz: Alegrai-vos comigo, porque achei a minha ovelha que se havia perdido.
Digo-vos que assim haverá maior alegria no céu por um pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento.


Parábola endereçada aos fariseus. Em Lc 14, Jesus está dividindo uma refeição com os fariseus. No Oriente Médio, e até hoje, convidar um homem para uma refeição é compartilhar a vida. Em qualquer refeição sabe-se que o hospede está trazendo honra à casa em que é recebido. É uma oferta de paz, de confiança. Desta forma, as refeições de Jesus com publicanos, fariseus e pecadores são expressões da sua missão. Ele está nos oferecendo um reajuste das relações e uma revisão de nossa escala de valores. Foram verdadeiros escândalos, que demonstram sua extrema humanidade e simpatia pelos desprezados. Para os fariseus é uma ofensa muito mais séria, pois Jesus, além de comer, está acolhendo (Mc 2:15, Lc 15:2) e através das parábolas da Ovelha Perdida, Moeda Perdida e Filho Pródigo, Jesus explica seus atos, que nos mostram três categorias de perdidos e reencontrados. Estas três parábolas são contadas por Lucas em seqüência e são conhecidas como parábolas da misericórdia.

1º MOMENTO: Com esta parábola, Jesus faz um ataque contra as atitudes farisaicas com as profissões tidas como proscritas. Para um fariseu, “pecador” era uma pessoa imoral, que não observava a Lei ou pessoas que se ocupavam com profissões proscritas, entre elas, pastor de ovelhas. Na verdade, é mais um contra-senso, pois Moisés foi um pastor de ovelhas e a figura de pastor é usada diversas vezes pelos profetas.
Jesus, um pouco antes, havia estado na casa de Mateus para uma refeição. Os fariseus e escribas insistiam em criticá-lo por estar com pecadores. Nesta passagem, baseado em texto de María e José Ignacio López Vigil, do livro UM TAL de JESUS, podemos perceber o clima geral de hostilidade que esta atitude representa. Mesmo seus companheiros não entendem. O texto é um diálogo entre Jesus e alguns de seus discípulos.


Jesus: Mas, e então? Vocês não vêm?
Tiago: Prefiro morrer a ter que entrar naquela casa, Jesus! Você está ficando maluco? Como vamos comer com aquele safado!
Os gritos de Tiago ressoaram no embarcadouro de Cafarnaum. Jesus havia ido até lá para falar-nos de Mateus e para perguntar se queríamos acompanhá-lo para comer em sua casa. Mas odiávamos o cobrador de impostos já há muitos anos e nenhum de nós quis ir.

Mila: E ele vem comer, você está dizendo?
Mateus: Sim, mulher. É um forasteiro de Nazaré. E eu estou desconfiado que é um sujeito meio especial.
Mila: E esse homem não é perigoso, Mateus? Quem vai vir comer aqui sem mais nem menos...?
Mateus: Já lhe disse que é um tipo meio estranho. Na verdade não me parece má pessoa...
A mulher de Mateus era solitária. O ofício de seu marido, um dos mais desprezados do nosso país, a foi afastando de todos em Cafarnaum. Vivia fechada em sua casa. Não gostava de sair. Quando ia ao mercado, as outras mulheres cochichavam às suas costas e mexiam com ela. Não tinha amigos. Tampouco tivera filhos. E quase nunca preparava comida para algum convidado. Por isso, naquela noite, por mais suspeitas que Mateus tivesse, sua mulher estava contente.

Ao entardecer, Jesus foi até a casa de Mateus. Foi sozinho. O publicano vivia na saída do bairro dos fruteiros. Em sete metros ao redor, não havia nenhuma outra casa. Ninguém queria viver perto dele. Tanto era o ódio que sentíamos em Israel pelos cobradores de impostos.
Mateus: Entre, entre, forasteiro. Esta aí é Mila, minha mulher.
Jesus: Boa noite, Mila...
Mila: Bem vindo à nossa casa, senhor... É ... Bem, meu marido me disse que viria, e que ... Nós também convidamos o capitão Cornélio para estar conosco esta noite... Suponho que não se importará... sabe, é que já o conhecemos...
Mateus: Deixe de tanta conversa, mulher! Para a cozinha! Termine de preparar aquelas berinjelas de uma vez!
Mila: Já vou, já vou...
Mateus: E então? Veio sozinho, não?... Seus amigos não quiseram sujar as sandálias pisando em minha casa...
Jesus: Sim, a verdade é que... não quiseram vir. Eu falei com eles, mas...
Mateus: Mas nada. Está bem. Pior para eles. Menos bocas, sobra mais para nós. Venha, vamos para dentro...

Enquanto isso, nós nos havíamos reunido para discutir na casa do velho Zebedeu. Estávamos todos furiosos. Minha mãe Salomé, que tinha uma voz estridente, nem sequer tinha preparado a sopa naquela noite...
Salomé: Até o rabino já está sabendo!... É uma vergonha! Estamos na boca de todos!... Ah, Jesus, quando eu o agarrar...!
Tiago: Não houve jeito de tirar essa idéia da cabeça dele, de ir comer com esse cachorro do Mateus.
Pedro: Isso não entra na minha cabeça!... O que Jesus está querendo com esse publicano?
Tiago: O que este publicano está querendo de Jesus? Isso é que não está claro. Aqui tem algo esquisito.
Salomé: Isso sim é verdade! Isso está cheirando mal.
Tiago: Mas e aí, não vamos fazer nada? Jesus comendo na casa de Mateus e nós aqui, de braços cruzados...?
Pedro: Por que não vamos até lá e quando sair dizemos umas quantas verdades a Jesus? Ele vai ter de se explicar! Heim? O que vocês acham? Vamos até a casa de Mateus?

A refeição já havia começado na casa de Mateus.
Mateus: Vamos, mulher, sirva mais beringelas a Jesus. Está com o prato vazio... Você veio aqui para comer bem, entendeu? Na minha casa não se passa fome!...
Jesus: Bem, mais uma, mas é a última. Estou satisfeito. A senhora cozinha muito bem, dona Mila...
Mateus: É uma grande cozinheira, sim senhor. O Cornélio sempre diz isso, mas ela nunca acredita muito. Também, quem está acostumado a que lhe cuspam quando passa na rua... Como vai acreditar que faça alguma coisa de bom...? Esta minha mulher está mais trancada em casa do que um caracol. Tem medo das pessoas... Deixe que digam o que quiserem, não é mesmo, amigo?
Olhe, Jesus, nesse tipo de profissão como a minha, acontece que nem com a tinta. Se você faz um borrão, não há quem o tire. A mancha fica para sempre. Com a gente, os cobradores de impostos, você se mete nisso e cai uma mancha sobre você. E não sai nunca mais. Por isso que eu digo, que é preciso se acostumar e não sofrer tanto como essa mulher!... Se ela não solta umas vinte lágrimas por dia não está contente! Bem, mas aqui não é lugar de chorar. Aqui é lugar de rir. Sirva mais a Jesus, mulher.

André, Pedro, Tiago e eu, nos aproximamos da casa de Mateus. Sentados na rua, ouvíamos de longe as risadas do publicano e víamos com raiva as luzes acesas lá dentro. Não podíamos suportar a idéia de que Jesus estivesse atrás daquelas paredes... Quando já estávamos um tempo por ali, passou o rabino Eliab e nos viu...
Rabino: Que fazem aqui?!...
Pedro: Bem...
Rabino: Então esse amiguinho de vocês está andando agora com o publicano? Como é essa história? Ele foi visto essa manhã bebendo com esse sujeito na taberna e agora veio comer em sua casa... O que vocês dizem disso? Ou também estão esperando para entrar?

Aquilo era o que faltava. Então Pedro se levantou de um salto e agarrou umas pedras da rua. Sem pensar duas vezes, começou a atirá-las contra a janela da casa de Mateus...
Pedro: Maldição para este publicano do inferno e para Jesus e para todo mundo!
Mila: Ai, Deus santo, que barulho é esse? Mateus corre aqui!
Mateus: Mas, quem está ai? Desgraçados!
Jesus: Espere Mateus, não saia você. Vamos Cornélio...

Jesus saiu ao portal da casa. Atrás dele vimos o capitão romano. E nesse momento uma pedra passou zumbindo entre os dois...
Jesus: O que vocês estão fazendo aqui?
Pedro: Isso nós é que perguntamos: o que você está fazendo aí, comendo com esse traidor?

O rabino Eliab, envolto em seu manto negro, se aproximou desafiante de Jesus...
Rabino: Como se atreve a partir o pão com os pecadores? Toda a Cafarnaum está murmurando sobre você, forasteiro. Você não pode se sentar à mesa com um homem que está manchado.
Jesus: E quem me proíbe disso?
Rabino: A Lei de Moisés e os santos costumes de nosso povo. Você não sabe que quem se junta a um homem impuro se torna impuro como ele?
Jesus: Mateus é um pecador? Pois bem. Deus não precisa converter os justos, mas os pecadores. E que eu saiba, não são os sadios que precisam de médico. São os doentes. Mateus está doente e sabe disso. Precisa que entre todos o curemos.
Rabino: Que bobagens você está dizendo, camponês ignorante! Assim, que você é o médico, não? E que veio aqui curar Mateus...! Você está tão doente como ele! Agora está manchado igual ao publicano que vive nela. Não sabe o que diz a Escritura para esses casos? Não se aproxime da sinagoga sem antes oferecer um sacrifício de purificação pelos seus pecados.
Jesus: E você não sabe o que diz uma outra parte da mesma Escritura: “Quero amor e não sacrifícios”. Deus prefere o amor às penitências.
Rabino: Insolente! Algum dia você vai engolir as palavras que acaba de dizer!
O rabino cuspiu no rosto de Jesus. Tinha as veias do pescoço tão saltadas que parecia que iam explodir. Sacudiu com raiva as sandálias diante dele e se afastou pela escura viela...

Pedro: Jesus, você nos traiu. Não esperávamos isso de você.
Tiago: Fale claro de uma vez: De que lado você está?
Pedro: Muito palavrório: “as coisas vão mudar, as coisas vão mudar”. E agora vem você comer com esse vende-pátria e com um capitão romano. Como fica isso, então?
Jesus: É como a gente vem conversando há muito tempo. Para que as coisas mudem, a gente tem de mudar. Mateus é o homem mais odiado em Cafarnaum. Todos nós podemos dar-lhe uma mão.
Tiago: Vai pros diabos, Jesus! Está bem, faça o que quiser. Mas tome cuidado com esse sujeito. Ele pode levar todo mundo para a cadeia.
Pedro: Vamos embora daqui. E você continue comendo... que todos se engasguem, maldição!

Jesus e o capitão Cornélio entraram de novo na casa de Mateus. E continuaram comendo com ele. Nós voltamos para a rua, sem dizer mais uma palavra. Que eu me lembre aquela foi a primeira vez que tivemos uma briga feia com Jesus. Não compreendemos porque ele havia feito aquilo. Não entendíamos então que no Reino de Deus haveria lugar para um homem tão desprezível como Mateus, o publicano.


2º MOMENTO: Compreendendo agora o ambiente predominante em relação aos pecadores, leia esta passagem, também baseado em texto de María e José Ignacio López Vigil, do livro UM TAL de JESUS. O texto é novamente em forma de diálogo entre Jesus e alguns de seus discípulos e vai falar da parábola.


Pedro: Mas, Jesus, por favor, abre os olhos! Você não percebe?... Mateus é um vendido aos romanos, um bajulador de Herodes!
Jesus: Mateus é um homem, Pedro. Um homem como você e como eu.
Tiago: Que se dane esse homem! Mateus é um traidor.
Pedro, Tiago e João estavam com Jesus na taverna junto ao lago. Na noite anterior, Jesus havia entrado na casa de Mateus, o cobrador de impostos de Cafarnaum, e havia jantado com ele.

João: Você nunca reparou que esse Mateus sempre vai sozinho, como um leproso? Ninguém da cidade quer se aproximar dele. Ninguém chega perto.
Pedro: E sabe por que? Porque ele é impuro, traidor e vendido.
João: E um tipo desse você convida para o grupo, Jesus? Mas o que é que você está querendo? Que ele vá nos denunciar ao capitão romano?
Tiago: Eu digo o mesmo. Se essa carniça vier com a gente, eu vou embora. Eu não me junto a traidores.
Pedro: E eu muito menos. Que aquele que está no céu me arrebente as tripas se algum dia eu renegar os meus!
Jesus: Eu não diria assim, Pedro. Mas, tudo bem, é um traidor, quem não sabe disso? Mas eu acho que todos juntos podemos conseguir que Mateus mude.
João: “Eu acho... eu acho...” E se ele der com a língua nos dentes e todos nós cairmos na arapuca por causa da sua imprudência?... Sinto muito, Jesus. Você não tem experiência política. Ninguém cai na besteira de colocar um lobo no meio das ovelhas.
Jesus: E quem disse que Mateus é um lobo? Os lobos são outros João. Agora ele está fazendo o jogo dos de cima sim, eu sei. Não sei, mas quando vi Mateus sentado naquela guarita, sozinho, manchado de tinta, me lembrei de uma história lá de Nazaré, de quando eu era menino...

Era uma vez um pastor que tinha cem ovelhas. Pela manhã, ao nascer do sol, o pastor saía com seu rebanho para o monte, onde o capim era mais verde e a água mais fresca... Todas as ovelhas estavam sadias e fortes, limpas e cuidadas. Todas, menos uma. A que nasceu doente, com uma pata mais curta que as outras. A ovelha que sempre ia atrás, mancando. Desde pequenina as outras a desprezavam. Nem brincavam, nem comiam com ela. Nenhuma se aproximava dela. Sempre ia sozinha aquela ovelha... Aconteceu que um dia iam pelo monte o pastor e seu rebanho. E começou a chover... O pastor saiu correndo e as ovelhas atrás dele, de volta para o curral.

A ovelha doente tentou imitar suas companheiras mas não podia alcançá-las. Tropeçava se levantava, e tornava a cair... O rebanho e o pastor se perderam numa curva do caminho. A névoa e os raios lhe fecharam a estrada. E a ovelha doente se perdeu. Arrastava sua perna coxa procurando as pegadas de suas companheiras. Mas a água apagou os rastros do caminho e não soube mais onde estava nem para onde seguir. Deu muitas voltas, andou daqui para lá no meio da chuva. Mas cada vez se afastava mais das outras. E começou a escurecer...

Enquanto isso, o pastor havia chegado ao curral seguido de seu rebanho. Como sempre, fez as ovelhas passarem pela porta de agulha para contá-las uma a uma...

Pastor: “... 94... 95 ... 96 ... 97 ... 98 ... 99 ... O que aconteceu? Me falta uma. Não pode ser. Seguramente contei errado.”

E começou a contar outra vez...

Pastor: “... 95 ... 96 ... 97 ... 98 ... 99 apenas! Eu perdi uma ovelha! Seguramente é aquela doente, da pata coxa. Puxa vida, onde terá se metido essa danada?” ...

“Bom, não se preocupe com ela. Está doente mesmo. Não sabe andar. Não serve para nada. Que durma no pasto. E que os lobos a comam”... disseram-lhe os outros pastores.

E se fez noite fechada. A ovelha da pata coxa continuava dando voltas pelo monte, sozinha e perdida. Gritou, mas ninguém respondia. Gritou mais forte, mas escutou apenas, lá longe, sobre as montanhas, os uivos dos lobos famintos... A ovelha perdida sentiu medo. Um medo muito grande. Então saiu correndo às cegas e caiu num barranco... Rolou sobre as pedras afiadas, deu mil cambalhotas sobre os espinhos, escorregou até lá em baixo, até o fundo onde a terra é lamacenta. E começou a se afundar...
O pastor estava deitado em sua esteira de palha, bem quente. Tentava dormir, mas não conseguia. Pensava na ovelha que havia perdido. E pensava: Puxa, perder-se assim, numa noite tão feia!... Por que tem de ser sempre a última? Bom, o que se vai fazer. Que se arranje como pode. Eu vou dormir.

A ovelha da pata coxa, tinha ainda um fiapo de vida. Fez um último esforço para sair daquele barranco, mas se afundou ainda mais. O lodo a ia engolindo pouco a pouco... O pastor lá em sua cabana bem quente, por fim conseguiu dormir... E enquanto dormia tranquilamente, a ovelha perdida se afundou mais e mais no barranco escuro. O lodo foi cobrindo toda sua lã, subiu até a boca, entrou pelo seu focinho... Já não podia gritar nem mover-se. Estava morta.

Pedro: E o que aconteceu depois?
Jesus: Nada. Acabou-se a história.
João: Como acabou-se a história?!
Jesus: Sim, acabou.
Pedro: Mas, como vai acabar assim, Jesus?... E o pastor, não fez nada?... Deixou-a morrer?
Jesus: Bem, o pastor fez o que pôde...
Pedro: O que pôde!... Por que não saiu para procurá-la, vamos, diga?
Jesus: Isso é fácil falar, Pedro, mas já pensou sair à meia noite e chovendo daquele jeito...
João: Mas era só se jogar um manto em cima, ora!
Jesus: E as outras? Como ficariam? Ele preferiu ficar vigiando o rebanho...
Pedro: Ele ficou foi dormindo!...
Jesus: Ele tinha de cuidar das noventa e nove ovelhas...
João: Bom, essas se cuidam sozinhas. Você não disse que elas estavam sadias e fortes? A outra, porém era uma infeliz...
Jesus: Bem, João, também não precisa exagerar. Afinal, uma a mais, uma a menos...
João: Não, não, não, isso não está certo, Jesus. Essa história me deixou com um tarugo entalado na garganta. Eu não gosto nem um pouco deste final.
Pedro: Muito menos eu.
Jesus: Pois eu não entendo vocês por que ... Esse é o final que vocês mesmos quiseram pôr...
Pedro: Nós? Mas essa história quem contou foi você, caramba!
Jesus: Não, vocês o puseram. Você, João, e você, Pedro. Mas por sorte, Deus coloca um outro final. Sim, Deus conta a história de outra maneira. Escutem, aconteceu que quando o pastor chegou ao curral e se pôs a contar as ovelhas...

Pastor: ... 95 ... 96 ... 97 ... 98 ... 99 ... Nossa, perdi uma. Vou procurá-la agora mesmo!
Mas seus companheiros lhe diziam: “Como você vai sair assim?... Está chovendo muito. Já é noite. Não poderá encontrá-la. Ela é uma só. Vai deixar as noventa e nove?...” Mas o pastor não fez conta, pegou o bastão, jogou-se um manto em cima e saiu com pressa, no meio daquela escuridão para procurar a ovelha doente que havia se perdido...

Pastor: Estrelinha!... Estrelinha!... Onde você está?... Estrelinhaaaa!...

Chamou-a pelo nome, correu de um lado para o outro, subiu e desceu a colina, gritou até ficar rouco... Não lhe importava a chuva, nem o frio, nem a noite, nem o cansaço... Só sua ovelha que estava em perigo. Tinha de encontrá-la antes que fosse tarde demais...

Pastor: Estrelinha! Estrelinha!

Era uma de suas ovelhas. E ainda estava com vida!... O pastor saiu correndo para o barranco, desceu até o fundo e a tirou dali... Estava salva! Depois a carregou sobre os ombros, cobriu-a com seu manto e, mais do que depressa voltou ao curral. Quando chegou, fez curativos nas feridas e a deitou junto com suas irmãs, sobre a palha quente. E o pastor estava tão contente naquela noite que saiu para despertar seus vizinhos...

Pastor: Amigos, eu a encontrei, eu a encontrei!... Estava perdida, estava quase morta... e eu a encontrei!... Alegrem-se comigo, camaradas! Venham, vamos beber um pouco de vinho...Eu convido. Quero que todo mundo esteja alegre nesta noite!

João: Bom, assim está bem melhor, mas...
Tiago: ... Mas, afinal de contas, a troco de que você contou essa história, heim?...
Jesus: Não sei Tiago... às vezes penso que Deus fica mais contente vendo um perdido como Mateus que volta e quer mudar de vida, do que quando vê os noventa e nove que se crêem bons e justos.


3º MOMENTO: na introdução à parábola, Jesus pergunta: “qual de vós?” e desta forma inclui a todos que estão a sua volta.
“alguém tiver cem ovelhas”: para ser responsável por cem ovelhas provavelmente haverá dois ou três pastores. Uma família geralmente tem de cinco a quinze ovelhas. Eles se reúnem em pequenos grupos para contratar um pastor. O bom pastor conhece cada uma delas e as chama pelo nome. O pastor não é um estranho (Jo 10:1-22). Ele é membro da família e qualquer perda é uma perda para todos eles, da mesma forma que a alegria é sentida por todos. Isto explica a alegria com a comunidade, que é o centro da parábola. Em verdade, a alegria é sentida duas vezes: quando a ovelha é encontrada e quando o pastor volta com ela para a aldeia. E com isso entendemos que não é o valor do animal que impulsiona o pastor a procurá-la. É um animal do seu rebanho, a sua ovelha. A ovelha perdida é um prejuízo comunitário. A ovelha recuperada é alegria para todos.
“e perdendo uma delas”: uma ovelha perdida ficará deitada e se recusará a se mexer. Um cão, um gato, um cavalo quando se perdem voltam sozinhos para casa. A ovelha precisa ser achada.
“achando-a, põe-na sobre os ombros”: o pastor é obrigado a carregá-la por uma distância considerável. Mas ele não retorna reclamando e censurando todo o trabalho e dificuldade. A ovelha é um animal frágil, que facilmente se cansa, enxerga mal e é indefesa. Ela precisa do pastor. As 99 ovelhas foram conduzidas para aldeia pelos outros pastores. Lá chegando, a ausência de um deles é logo notada. Além da possibilidade de perda do animal, há a segurança do pastor. O fato de se achar e retornar em segurança é motivo de muita comemoração e alegria na comunidade.
Jesus nos está mostrando a alegria de Deus de poder resgatar e perdoar. A conclusão da parábola é sobre a restauração de um pecador. A alegria sentida nos céus no arrependimento de apenas um.
Da mesma forma, o pecador que se encontra perdido, não tem força em si mesmo, o pecado lhe consumiu o vigor moral e espiritual. Dependem do Bom Pastor a orientação e segurança: “sem mim nada podeis fazer”. Jesus vai à procura deste homem perdido e se identifica com aquele que está perdido. É assim com o pastor, que quando percebe que uma ovelha se perdeu, não perde tempo e a procura com todos os seus esforços possíveis. “O Bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas” (Jo 10:11).
A história não termina pela ovelha encontrada. Agora esta ovelha precisa ser restaurada ao convívio com as demais. Desta forma, Jesus nos explica porque está recebendo pecadores. Esta recepção acarreta a restauração na comunidade. E o pastor que carrega a ovelha, tarefa aceita com alegria, nos remete a cada um “carregar a sua cruz” (Lc 14:27). Publicanos e pecadores pertencem a Deus, a despeito de todas as aparências em contrário. O próprio Deus quer que eles voltem a si e se esforçará para te-los de volta. Em outras palavras, Jesus disse: “O pastor procurou a ovelha. Eu procuro os perdidos e vocês, fariseus, deveriam fazer o mesmo.”

4º MOMENTO: com a parábola da MOEDA PERDIDA, Jesus reforça este conceito de esforço e restauração.
MOEDA PERDIDA Lc 15:8-10
Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas, se perde uma dracma, acende a candeia e varre a casa, procura com diligência até a encontrar?
E achando-a, reúne as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque achei a dracma que havia perdido.
Assim, digo-vos, há alegria na presença dos anjos de Deus por um só pecador que se arrepende.

Jesus mais uma vez está rejeitando atitudes farisaicas, pois se utiliza de uma mulher para passar seu ensinamento. Neste caso, a mulher sabia de que a moeda havia sido perdido dentro de casa. Ela tem a certeza de encontrá-la, desde que esteja disposta a esforços. Dinheiro é um artigo raro, pois a aldeia é auto-suficiente, fazendo trocas com mercadorias, sua própria roupa e cultivando sua própria comida. A moeda adquire valor maior que o monetário. Ela também faz parte do dote, colocada em véus ou colares. Perder uma é perder um casamento.

5º MOMENTO: conclusão.
Jesus foi buscar Madalena no abismo de vícios e vaidades. Foi buscar Zaqueu da ganância e opulência. Paulo do fanatismo e ignorância. Advertiu Judas do caminho perigoso que ele escolheu. Pedro, de sua rigidez.
Todos somos ovelhas perdidas que precisam de um pastor que nos guie. O mundo inteiro é como a ovelha perdida: todos seguem o seu próprio caminho de individualismo e egoísmo. Todos os homens precisam arrepender-se para assim se colocarem a disposição de mudança.



Parábolas de Jesus - VIGILÂNCIA

DEZ VIRGENS Mt. 25:1-13

O reino de Deus é comparado a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do noivo.
Cinco dentre elas eram insensatas, e cinco, prudentes.
As insensatas, tomando as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo; mas as prudentes levaram azeite em suas vasilhas, juntamente com as lâmpadas.
Tardando a chegar o noivo, cochilaram todas e adormeceram.
À meia-noite ouviu-se um grito: Eis o noivo! Saiam todas ao seu encontro.
Então elas se levantaram a fim de preparar as suas lâmpadas.
E disseram as insensatas às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpa¬das estão se apagando.
As prudentes, porém, responderam: Talvez não haja o bastante para nós e para vós. Ide, pois, aos que o vendem, e comprai para vós.
E enquanto elas foram comprá-lo, chegou o noivo; e as que estavam preparadas entraram com ele para as bodas, e fechou-se a porta.
Depois vieram as outras virgens e disseram: Senhor, Senhor, abre-nos a porta. Mas ele respondeu: Em verdade vos digo que não vos conheço.
Portanto, vigiai, porque não sabeis nem o dia, nem a hora.

Esta parábola só é contada por Mateus. Correm tempos difíceis, daqui a dois dias é Páscoa e Jesus será entregue para ser crucificado. É preciso ter azeite para reposição, é preciso estar preparados, que ninguém durma, mas que vele alerta. Mateus termina dramaticamente com a porta trancada para indicar a seriedade do tema de que se está falando.
Estamos falando do final dos tempos, do dia do juízo e do acerto de contas. Durante muito tempo, o povo foi aterrorizado por este dia final. O medo do inferno, o fogo e seus castigos foram constante tema dos pregadores para pressionar as pessoas a mudar de vida, a converter-se. Isto pesa ainda sobre os cristãos. A vigilância cristã se reduz assim ao temor e à necessidade de acumular méritos para quando chegar a hora. Diante de tudo isso, precisamos nos abrir para a realidade do Deus de Jesus. Um Deus alegre, que prepara um banquete de casamento para nos receber na outra vida, capaz de compreender nossas fraquezas e que quer nossa felicidade.

1º MOMENTO: o que as palavras representam. A parábola nos fala de uma festa de casamento. As bodas eram festas de grande alegria em Israel. Duravam sete dias, em que se passava comendo, cantando, dançando. Havia sempre um momento culminante: o encontro dos noivos. Na tarde do primeiro dia da festa levavam a noiva para a casa dos pais do noivo, onde se celebrava o banquete e se preparava o quarto dos novos esposos. O noivo saía ao encontro de sua mulher com um turbante especial que sua mãe lhe havia confeccionado, a coroa. Seus amigos o acompanhavam e era costume que um grupo de moças, com cânticos e tochas, saísse ao seu encontro, para todos se reunirem depois na casa onde se celebrava a festa. A noiva aparecia diante de seu futuro esposo coberta com véus e muito enfeitada.


ATITUDE PERMANENTE x ATOS TRANSITÓRIOS
O Reino de Deus é representado pelas dez virgens. O símbolo da virgindade nos remete aquelas que desejam se resguardar da corrupção do mundo. Mas mesmo entre elas há diferenças.

A metade tem esse combustível misterioso, essa luz potencial, que pode a qualquer momento transformar-se. Estudam, examinam, pesquisam, raciocinam e compreendem. Estão em busca constante de seu aperfeiçoamento. Conscientes da seriedade da vida terrena, não perdem tempo. Seus atos são dentro de uma moral elevada e exemplificada por atos virtuosos. Além dos cuidados que tomam para se manterem incorruptíveis, tratam também de prover-se do azeite de reserva, isto é, das virtudes ativas, que se manifestam em boas obras em favor do próximo. E, com a posse do precioso combustível, que se converte em luz, garantem a iluminação de seus passos no caminho que os há-de conduzir à realização espiritual.

A outra metade, sem experiência e sem conhecimento, tem na fé dogmática o seu suporte. Interesses mesquinhos e imediatistas regem seus objetivos. Egoístas, esquecidos de seus deveres, representam as ações sem consistência. Estão constantemente enfastiadas e estagnadas. Passam a vida impondo-se severa disciplina, evitando tudo aquilo que os possa macular, certos de que isto seja o bastante para assegurar-lhes um lugar no reino de Deus.

Texto de apoio: E DEPOPIS?
Um homem de negócios americano, no ancoradouro de uma aldeia da costa mexicana, observou um pequeno barco de pesca que atracava naquele momento trazendo um único pescador. No barco, vários grandes atuns de barbatana amarela. O americano deu os parabéns ao pescador pela qualidade dos peixes e perguntou-lhe quanto tempo levara para pescá-los.
- Pouco tempo, respondeu o mexicano.
Em seguida, o americano perguntou por que é que o pescador não permanecia no mar mais tempo, o que lhe teria permitido uma pesca mais abundante.
O mexicano respondeu que tinha o bastante para atender às necessidades imediatas da sua família.
O americano voltou a carga:
- Mas o que é que você faz com o resto do seu tempo?
O mexicano respondeu:
- Durmo até tarde, pesco um pouco, brinco com os meus filhos, tiro a siesta com a minha mulher, Maria, vou todas as noites à aldeia, bebo um pouco de vinho e toco violão com os meus amigos. Levo uma vida cheia e ocupada, senhor.
O americano assumiu um ar de pouco caso e disse:
- Eu sou formado em administração em Harvard e poderia ajudá-lo. Você deveria passar mais tempo a pescar e, com o lucro, comprar um barco maior. Com a renda produzida pelo novo barco, poderia comprar vários outros. No fim, teria uma frota de barcos de pesca. Em vez de vender pescado a um intermediário, venderia diretamente a uma indústria processadora e, no fim, poderia ter sua própria indústria. Poderia controlar o produto, o processamento e a distribuição. Precisaria deixar esta pequena aldeia costeira de pescadores e mudar-se para a Cidade do México, em seguida, para Los Angeles e, finalmente, para Nova York, de onde dirigiria a sua empresa em expansão.
- Mas, senhor, quanto tempo isso levaria? - perguntou o pescador.
- Quinze ou vinte anos - respondeu o americano.
- E depois, senhor?
O americano riu e disse que essa seria a melhor parte.
- Quando chegar a ocasião certa, você poderá abrir o capital da sua empresa ao público e ficar muito rico. Ganharia milhões.
- Milhões, senhor? E depois?
- Depois - explicou o americano - você reformava-se. Mudar-se-ia para uma pequena aldeia costeira, onde dormiria até tarde, pescaria um pouco, brincaria com os netos, tiraria a sesta com a esposa, iria à aldeia todas as noites, onde poderia beber vinho e tocar violão com os amigos...
- Mas senhor, eu já faço isso!


2º MOMENTO: “cochilaram todas e adormeceram”: a vida parece uma espécie de sono. Distraímo-nos facilmente, esquecidos de nosso real objetivo ao reencarnar. Mesmo que pareçam estarem dormindo, as virgens prudentes estão espiritualmente em vigília. Possuem a receptividade necessária e estão com as suas lâmpadas cheias de óleo, prontas para serem incendiadas. Conscientes da presença de Jesus, mesmo em plena noite. As insensatas permanecem alheias, envoltas em trevas, dormem física e espiritualmente, e tem as suas candeias incompletas. Levam suas lâmpadas sem ou com pouco azeite. Com a candeia mal provida, no meio da noite não há mais luz, dei¬xando seus portadores mergulhados na mais densa escuridão.
Texto de apoio: A Serpente e o Pirilampo
Uma vez uma serpente começou a perseguir um pirilampo. Cheio de medo, o pirilampo fugia rapidamente, mas a serpente continuava atrás dele sem desistir. E isto durou e durou até que no terceiro dia de perseguição o pirilampo, já sem forças, resolveu parar e perguntou à serpente:
- Posso fazer-te três perguntas?
- Não costumo abrir esse precedente, mas já que te vou devorar, podes perguntar...
- Pertenço à tua cadeia alimentar ?
- Não.
- Fiz-te algum mal?
- Não.
- Então porque queres acabar comigo?
- Porque não suporto ver você brilhar...

“Eis o noivo!”: e tudo aquilo que Jesus representa.

Texto de apoio: UM SIMPLES CONSELHO, história de autoria ignorada do livro Dicionário da Alma.
Certa vez um jovem muito rico foi procurar um rabi para lhe pedir um conselho.
Toda sua fortuna não era capaz de lhe proporcionar a felicidade tão sonhada.
Falou da sua vida ao rabi e pediu a sua ajuda.
Aquele homem sábio o conduziu até uma janela e pediu para que olhasse para fora com atenção, e o jovem obedeceu.
O que você vê através do vidro, meu rapaz? Perguntou o rabi.
Vejo homens que vêm e vão, e um cego pedindo esmolas na rua, respondeu o moço.
Então o homem lhe mostrou um grande espelho e novamente o interrogou: o que você vê neste espelho?
Vejo a mim mesmo, disse o jovem prontamente.
E já não vê os outros, não é verdade?
E o sábio continuou com suas lições preciosas:
Observe que a janela e o espelho são feitos da mesma matéria prima: o vidro.
Mas no espelho há uma camada fina de prata colada ao vidro e, por essa razão, você não vê mais do que sua própria pessoa.
Se você se comparar a essas duas espécies de vidro, poderá retirar uma grande lição.
Quando a prata do egoísmo recobre a nossa visão, só temos olhos para nós mesmos e não temos chance de conquistar a felicidade efetiva.
Mas quando olhamos através dos vidros limpos da compaixão, encontramos razão para viver e a felicidade se aproxima.
Por fim, o sábio lhe deu um simples conselho:
Se quiser ser verdadeiramente feliz, arranque o revestimento de prata que lhe cobre os olhos para poder enxergar e amar os outros. Eis a chave para a solução dos seus problemas.
Se você também não está feliz com as respostas que a vida tem lhe oferecido, talvez fosse interessante tentar de outra forma.
Muitas vezes, ficamos olhando somente para a nossa própria imagem e nos esquecemos de que é preciso retirar a camada de prata que nos impede de ver a necessidade à nossa volta.
Quando saímos da concha de egoísmo, percebemos que há muitas pessoas em situação bem mais difícil que a nossa e que dariam tudo para estar em nosso lugar.
E quando estendemos a mão para socorrer o próximo, uma paz incomparável nos invade a alma.
É como se Deus nos envolvesse em bênçãos de agradecimento pelo ato de compaixão para com seus filhos em dificuldades.
Ademais, quem acende a luz da caridade, é sempre o primeiro a beneficiar se dela.
E a caridade tem muitas maneiras de se apresentar:
Pode ser um sorriso gentil...
Uma palavra que anima e consola...
Um abraço de ternura...
Um aperto de mão...
Um pedaço de pão...
Um minuto de atenção...
Um gesto de carinho...
Uma frase de esperança...
E quem de nós pode dizer que não necessita ou nunca necessitará dessas pequenas coisas?


“Então elas se levantaram”:e se preparam, cada uma usando de seus recursos.

“Dai-nos do vosso azeite”: as virtudes são intransferíveis, devendo cada um de nós cultivá-las com seus recursos pessoais. Experiência e conhecimento são conquistas, não dádivas.

“as nossas lâmpadas estão se apagando”: elas acendem, mas apagam. É uma chama vacilante.

“comprai para vós”: há um custo para a demora, para o atraso. Ter que sair para comprar tem conseqüência direta no desfecho da parábola.

“fechou-se a porta”: fechou-se um ciclo, uma existência, surpreendendo-nos de fora. No momento preciso, estávamos desprovidos do azeite.

“Senhor, Senhor”: não seremos reconhecidos como aqueles que fazem a vontade do Pai.

“vigiai, porque não sabeis nem o dia, nem a hora”: é preciso ter azeite, inclusive para reposição. É preciso estar preparado para os tempos que se aproximam.


3º MOMENTO: VIGIAR e ORAR

Vigiar e orar são a mesma coisa. E é por isso que os verbos estão juntos. O que nos possibilita vigiar é o ato de orar. Quando oramos, estamos em contato com um universo além de nossa compreensão, possibilitando criar o ambiente necessário para que a espiritualidade atue. E quando colocarmos a oração no nosso dia-a-dia viveremos conectados com a espiritualidade maior. Quando assim permanecermos, o estado de alerta passará a ser natural. Permitindo-nos esta naturalidade, a mera presença de algo diferente gera em nós a reação necessária. E quanto mais em paz alguém está, mais alerta fica.

Em várias momentos Jesus ressaltou a importância da vigilância.

O QUE É A VIGILÂNCIA e O QUE ELA NOS POSSIBILITA?

1. Ficar de prontidão.

2. Reflexão e conhecimento de nós mesmos.

3. Manter a conexão com a espiritualidade.

4. Manter a situação sob controle.

5. Estar consciente de nossa realidade.

6. Estar preparado.

7. Ter estratégias.

8. Ter iniciativa.

9. Saber discernir.

10. Ter auto-controle.

A vigilância requerida por Jesus era em benefício dos próprios discípulos, para que conseguissem suportar o que estava para acontecer. Jesus estava instruindo-os como deveriam proceder em seus momentos finais. Mas esse texto é lido como um teor de ameaça. Talvez seja por reconhecermos que passamos horas com os joelhos dobrados (simbolicamente falando), mas na primeira oportunidade em que temos de colocar em prática o que pedimos em oração, mentimos, xingamos, roubamos, adulteramos, caluniamos, odiamos, somos desonestos, e depois ainda indagamos: Senhor, Senhor?


Parábolas de Jesus - CONFIANÇA

O JUIZ e a VIÚVA Lc 18:2-8

Havia em certa cidade um juiz que não temia a Deus, nem respeitava os homens.

Havia também naquela mesma cidade uma viúva que vinha a ele, constantemente, dizendo: Faze-me justiça contra o meu adversário.

E por algum tempo não quis atendê-la; mas depois disse consigo: Ainda que não temo a Deus, nem respeito os homens,

todavia, como esta viúva me incomoda, julgarei a sua causa, para que ela não continue a vir molestar-me com suas visitas.

Presta atenção ao que diz este juiz injusto.

E não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que dia e noite clamam a ele, mesmo que seja demorado a atendê-los?

Eu vos digo que ele fará justiça em favor delas depressa. E, quando o Filho do homem vier, achará fé na terra?

Em 18:1, Lucas está nos orientando sobre o significado original da parábola, pois como se trata de um juiz, relacionam esta parábola com justiça. Lucas fala:”Ele estava contando uma parábola sobre o dever de sempre orar e não desanimar”.

Os fiéis devem ser persistentes na oração, não apenas em relação a intervenção decisiva de Deus na história, mas eles devem busca-lo mesmo que nossa confiança vacilar.

1º MOMENTO: os personagens da parábola.

O JUIZ: presente desde o Antigo Testamento. O juiz é uma pessoa que representa o certo, a honestidade, é o representante do homem nas questões de justiça. Mas este juiz da parábola não se importa nem com Deus, nem com os homens. É um juiz sem princípios e sem fé. Nada o envergonha e não há honra para qual se possa apelar. O grito: “pelo amor de Deus” de nada adiantará. O clamor: ”Por justiça a esta viúva desamparada” será inútil.

A VIÚVA: no Antigo Testamento é símbolo dos inocentes e oprimidos. Mas não é sinônimo de idosa. As meninas se casavam com 12, 13 anos e muitas ficavam viúvas ainda jovens, ou seja, lúcidas, ativas, capazes de trabalhar. A mulher judia é modesta e fica dentro de casa. Se esta mulher é que fala é porque está inteiramente só, sem nenhum homem na família para defendê-la. Ela tinha direitos legais que estavam sendo violados. Seu pedido é por justiça e proteção e não vingança.

A viúva permanece na certeza de que tem direito e razão e repete ao juiz dia após dia: “faze-me justiça”. Ela não se incomoda com a opinião dos outros nem com os insultos e palavras sarcásticas do juiz.

CONVICÇÃO de que é na constância, na persistência que reside sua força.

CONSCIENTE de que sua posição é justa, não é ela que tem de mudar.

TENACIDADE na forma de ação não-violenta.

Texto de apoio: A SENTENÇA CRISTÃ, do livro Alvorada Cristã, c.32, onde Jesus nos explica o comportamento que se espera de uma autoridade.

Um juiz cristão, rigoroso nas aplicações da lei humana, mas fiel no devotamento ao Evan­gelho, encontrando-se em meio duma sociedade corrompida e perversa, orou, implorando a pre­sença de Jesus.

Tantas sentenças condenatórias devia pro­ferir diàriamente, que se lhe endurecera o co­ração.

Atormentado, porém, entre a confiança que consagrava ao Divino Mestre e as acusações que se acreditava compelido a formular, rogou, certa noite, ao Senhor, lhe esclarecesse o espírito angustiado.

Efetivamente, sonhou que Jesus vinha des­fazer-lhe as dúvidas aflitivas. Ajoelhou-se aos pés do Amoroso Amigo e perguntou:

Mestre, que normas adotar perante um homicida? Não estará lõgicamente incurso nas penas legais?

O Cristo sorriu, de leve, e respondeu:

Sim, o criminoso está condenado a rece­ber remédio corretivo, por doente da alma.

O juiz considerou estranha a resposta; con­tudo. prosseguiu indagando:

Como agir, ante o delinqüente rude, Se­nhor?

Está condenado a valer-se de nosso auxílio, através da educação pelo amor paciente e construtivo — explicou Jesus, bondoso e calmo.

Mestre, e que corrigenda aplicar ao pre­guiçoso?

Está condenado a manejar a enxada ou a picareta, conquistando o pão com o suor do rosto.

Que farei da mulher pervertida? — in­terrogou o jurista, surpreso.

Está condenada a beneficiar-se de nosso amparo fraterno, a fim de que se reerga para a elevação do trabalho e para a dignidade hu­mana.

Senhor, como julgar o ignorante?

Está condenado aos bons livros.

E o fanático?

Está condenado a ser ouvido e interpre­tado com tolerância e caridade, até que aprenda a libertar a própria alma.

Mestre, e que diretrizes adotar, ante um ladrão?

— Está condenado à oficina e à escola, sob vigilância benéfica.

E se o ladrão é um assassino?

Está condenado ao hospício, onde se lhe cure a mente envenenada.

O magistrado passou a meditar gravemente e lembrou-se de que deveria modificar todas as peças do tribunal, substituindo a discriminação de castigos diversos por remédio, serviço, fraternidade e educação. Todavia, não se sentindo bem com a própria consciência, endereçou ao Senhor suplicante olhar, e perguntou, depois de longos instantes:

Mestre, e de mim mesmo, que farei?

Jesus sorriu, ainda uma vez, e disse, sereno:

O cristão está condenado a compreender e ajudar, amar e perdoar, educar e construir, distribuir tarefas edificantes e bênçãos de luz renovadora, onde estiver.

Nesse momento, o juiz acordou em lágrimas e, de posse da sublime lição que recebera, reconheceu que, dali em diante, seria outro homem.

2º MOMENTO: o juiz e a viúva.

por algum tempo não quis atendê-la”: podemos identificar três possíveis motivos: ela não pagou ou não subornou este juiz; o juiz já fez sua escolha e prefere favorecer o adversário que pagou ou tem influência; o juiz sabe que ela não tem como pagar a causa e lhe é vantajoso deixar o outro ganhar a causa. Mas ela não desanima. Movida por fé e perseverança que vão levar ao êxito.

disse consigo”: ele não teme a Deus e sabe que ninguém pode exigir dele qualquer atitude. Refletindo consigo, o juiz conclui que continua o mesmo, sem dar importância a Deus e aos homens. É um egocêntrico. O juiz também se mantém com a mesma determinação sobre sua postura. Talvez ele pensasse baseado na sua própria experiência e em outros casos semelhantes, que a viúva logo iria desistir. Passa-se o tempo e, por rotina ou desinteresse, permanece negligente no assunto.

me incomoda” e “não continue a vir”: o juiz percebe que esta mulher não vai desistir. O texto indica a extensão a que a persistência dela o irritou, inflexível e determinada em pedir. Pouco a pouco, o juiz começa a pensar como vai sair desta situação. Ele não agüenta mais. Não tem pena da viúva, não se importa com a lei de Deus e, ainda por cima, tem outros casos com que se preocupar, possivelmente mais proveitosos. O grito da viúva e sua atitude insistente são mais fortes do que sua falta de princípios éticos e religiosos.

3º MOMENTO: Texto de apoio: VISÃO da VIDA, recebido por e.mail, sem autor.

Solução ou problema?

Aonde você vê OBSTÁCULO, alguém vê o término de uma viagem e outro percebe a chance de crescer.

Aonde você vê MOTIVO PARA SE IRRITAR, alguém vê tragédia total e outro percebe uma prova para paciência.

Aonde você vê FORTUNA, alguém vê riqueza material e outro percebe uma oportunidade para ampliar benefícios.

Aonde você vê TEIMOSIA, alguém vê IGNORÂNCIA e outro percebe As limitações do companheiro.

Aonde você vê A MORTE, alguém vê o fim e outro percebe o começo de uma nova etapa.

Esta viúva é uma mulher num mundo de homens. Sem dinheiro e sem amigos poderosos. Não tem como apelar ao senso de dever com Deus para este juiz, que não se envergonha de qualquer ato mal que venha fazer contra inocentes. Ela consegue sua audiência e que a causa seja julgada em seu favor.

O juiz muda de atitude, mas não de intenção. Faz justiça a viúva, mas não se faz justo diante de Deus. Muda o comportamento, mas não o sentimento. Não faz o mal, mas faz mal o bem. Não é a virtude que o leva a decidir em favor da viúva, mas seu egoísmo. Para ele justiça é instrumento de poder, não de serviço.

4º MOMENTO: “Presta atenção”. Lucas nos traz esta frase enfática no versículo 6 e devemos realmente entender o porquê.

Presta atenção ao juiz que teve a mudança conquistada por causa da viúva que não retrocedeu em seu empenho. Presta atenção, pois a perseverança na súplica pode conquistar um coração frio e endurecido. Presta atenção que a fragilidade pode triunfar sobre a prepotência. Presta atenção, pois a atitude final do juiz vai me servir de modelo para falar da justiça de Deus para com os seus seguidores.

5º MOMENTO: conclusão.

Se um juiz injusto faz contra a sua vontade justiça a viúva insistente, será que Deus não fará justiça de boa vontade pelo que lhe pedem? O que o homem faz por egoísmo e conveniência, não o fará Deus por amor e compaixão? Não estamos apelando para um juiz enfadado, mas para um Pai amoroso. Embora a sua situação seja desencorajadora e desesperada, não será tão ruim quanto desta viúva. E Deus agirá tendo em vista o melhor para nós. Uma oração confiante é solução para o medo que rouba sua tranqüilidade e, desta forma, suportará tudo. A oração e a ação devem ser orientadas pelas atitudes: constantes, persistentes, pacientes, em movimento.

Texto de apoio: O PIOR INIMIGO, do livro Alvorada Cristã, c.22

Um homem, admirável pelas qualidades de trabalho e pelas formosas virtudes do caráter, foi visto pelos inimigos da Humanidade que conhecemos por Ignorância, Calúnia, Maldade, Discórdia, Vaidade, Preguiça e Desânimo, os quais tramaram, entre si, agir contra ele, con­duzindo-o à derrota.

O honrado trabalhador vivia feliz, entre familiares e companheiros, cultivando o campo e rendendo graças ao Senhor Supremo pelas ale­grias que desfrutava no contentamento de ser útil.

A Ignorância começou a cogitar da perse­guição, apresentando-o ao povo como mau observador das obrigações religiosas. Insulava-se no trato da terra, cheio de ambições desmedidas para enriquecer à custa do alheio suor. Não tinha fé, nem respeitava os bons costumes.

O lavrador ativo recebeu as notícias do adversário que operava, de longe, sorriu calmo e falou com sinceridade:

— A Ignorância está desculpada.

Surgiu, então, a Calúnia e denunciou-o às autoridades por espião de interesses estranhos. Aquele homem vivia, quase sôzinho, para melhor comunicar-se com vasta quadrilha de ladrões. O serviço policial tratou de minuciosas averigua­ções e, ao término do inquérito vexatório, a ví­tima afirmou sem ódio:

— A Calúnia estava enganada.

E trabalhou com dobrado valor moral.

Logo após, veio a Maldade, que o atacou de mais perto. Principiou a ofensiva, incendiando-lhe o campo. Destruiu-lhe milharais enormes, prejudicou-lhe a vinha, poluiu-lhe as fontes. Todavia, o operário incansável, reconstruindo para o futuro, respondeu, sereno:

— Contra as sombras do mal, tenho a luz do bem.

Reconhecendo os perseguidores que haviam encontrado um espírito robusto na fé, instruíram a Discórdia que passou a assediá-lo dentro da própria casa. Provocações cercaram-no de todos os lados e, a breve tempo, irmãos e amigos da véspera relegaram-no ao abandono.

O servo diligente, dessa vez, sofreu bastante, mas ergueu os olhos para o Céu e falou:

— Meu Deus e meu Senhor, estou só, no entanto, continuarei agindo e servindo em Teu Nome. A Discórdia será por mim esquecida.

Apareceu, então, a Vaidade que o procurou nos aposentos particulares, afirmando-lhe:

— És um grande herói... Venceste afli­ções e batalhas! Serás apontado à multidão na auréola dos justos e dos santos!...

O trabalhador sincero repeliu-a, impertur­bável:

— Sou apenas um átomo que respira. Toda glória pertence a Deus!

Ausentando-se a Vaidade com desaponta­mento, entrou a Preguiça e, acariciando-lhe a fronte com mãos traiçoeiras, afiançou:

— Teus sacrifícios são excessivos... Vamos ao repouso! Já perdeste as melhores forças!...

Vigilante, contudo, o interpelado replicou sem hesitar:

— Meu dever é o de servir em benefício de todos, até ao fim da luta.

Afastando-se a Preguiça vencida, o Desâ­nimo compareceu. Não atacou de longe, nem de perto. Não se sentou na poltrona para conversar, nem lhe cochichou aos ouvidos. Entrou no coração do operoso lavrador e, depois de instalar-se lá dentro, começou a perguntar-lhe:

— Esforçar-se para quê? servir porquê? Não vê que o mundo está repleto de colaborado­res mais competentes? que razão justifica tama­nha luta? quem o mandou nascer neste corpo? não foi a determinação do próprio Deus? não será melhor deixar tudo por conta de Deus mesmo? que espera? sabe, acaso, o objetivo da vida? tudo é inútil... não se lembra de que a morte destruirá tudo?

O homem forte e valoroso, que triunfara de muitos combates, começou a ouvir as interrogações do Desânimo, deitou-se e passou cem anos sem levantar-se...

6º MOMENTO: Por que Jesus está tão desanimado ao final da parábola? Os tempos da Paixão está há poucos versículos desta passagem. Os inimigos de Jesus estão reunindo forças, o ambiente é tenso e de medo. Jesus e seu pequeno grupo enfrentam rejeição e hostilidade intensificadas. Seus discípulos aguardam recompensas e compensações, respostas e consolo. Com a pergunta: “o Filho do homem achará fé?”, Jesus questiona a qualidade da fé deste grupo, pois terão eles a disposição de suportar tudo como a mulher da parábola?