quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Parábolas de Jesus - VIGILÂNCIA

DEZ VIRGENS Mt. 25:1-13

O reino de Deus é comparado a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do noivo.
Cinco dentre elas eram insensatas, e cinco, prudentes.
As insensatas, tomando as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo; mas as prudentes levaram azeite em suas vasilhas, juntamente com as lâmpadas.
Tardando a chegar o noivo, cochilaram todas e adormeceram.
À meia-noite ouviu-se um grito: Eis o noivo! Saiam todas ao seu encontro.
Então elas se levantaram a fim de preparar as suas lâmpadas.
E disseram as insensatas às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpa¬das estão se apagando.
As prudentes, porém, responderam: Talvez não haja o bastante para nós e para vós. Ide, pois, aos que o vendem, e comprai para vós.
E enquanto elas foram comprá-lo, chegou o noivo; e as que estavam preparadas entraram com ele para as bodas, e fechou-se a porta.
Depois vieram as outras virgens e disseram: Senhor, Senhor, abre-nos a porta. Mas ele respondeu: Em verdade vos digo que não vos conheço.
Portanto, vigiai, porque não sabeis nem o dia, nem a hora.

Esta parábola só é contada por Mateus. Correm tempos difíceis, daqui a dois dias é Páscoa e Jesus será entregue para ser crucificado. É preciso ter azeite para reposição, é preciso estar preparados, que ninguém durma, mas que vele alerta. Mateus termina dramaticamente com a porta trancada para indicar a seriedade do tema de que se está falando.
Estamos falando do final dos tempos, do dia do juízo e do acerto de contas. Durante muito tempo, o povo foi aterrorizado por este dia final. O medo do inferno, o fogo e seus castigos foram constante tema dos pregadores para pressionar as pessoas a mudar de vida, a converter-se. Isto pesa ainda sobre os cristãos. A vigilância cristã se reduz assim ao temor e à necessidade de acumular méritos para quando chegar a hora. Diante de tudo isso, precisamos nos abrir para a realidade do Deus de Jesus. Um Deus alegre, que prepara um banquete de casamento para nos receber na outra vida, capaz de compreender nossas fraquezas e que quer nossa felicidade.

1º MOMENTO: o que as palavras representam. A parábola nos fala de uma festa de casamento. As bodas eram festas de grande alegria em Israel. Duravam sete dias, em que se passava comendo, cantando, dançando. Havia sempre um momento culminante: o encontro dos noivos. Na tarde do primeiro dia da festa levavam a noiva para a casa dos pais do noivo, onde se celebrava o banquete e se preparava o quarto dos novos esposos. O noivo saía ao encontro de sua mulher com um turbante especial que sua mãe lhe havia confeccionado, a coroa. Seus amigos o acompanhavam e era costume que um grupo de moças, com cânticos e tochas, saísse ao seu encontro, para todos se reunirem depois na casa onde se celebrava a festa. A noiva aparecia diante de seu futuro esposo coberta com véus e muito enfeitada.


ATITUDE PERMANENTE x ATOS TRANSITÓRIOS
O Reino de Deus é representado pelas dez virgens. O símbolo da virgindade nos remete aquelas que desejam se resguardar da corrupção do mundo. Mas mesmo entre elas há diferenças.

A metade tem esse combustível misterioso, essa luz potencial, que pode a qualquer momento transformar-se. Estudam, examinam, pesquisam, raciocinam e compreendem. Estão em busca constante de seu aperfeiçoamento. Conscientes da seriedade da vida terrena, não perdem tempo. Seus atos são dentro de uma moral elevada e exemplificada por atos virtuosos. Além dos cuidados que tomam para se manterem incorruptíveis, tratam também de prover-se do azeite de reserva, isto é, das virtudes ativas, que se manifestam em boas obras em favor do próximo. E, com a posse do precioso combustível, que se converte em luz, garantem a iluminação de seus passos no caminho que os há-de conduzir à realização espiritual.

A outra metade, sem experiência e sem conhecimento, tem na fé dogmática o seu suporte. Interesses mesquinhos e imediatistas regem seus objetivos. Egoístas, esquecidos de seus deveres, representam as ações sem consistência. Estão constantemente enfastiadas e estagnadas. Passam a vida impondo-se severa disciplina, evitando tudo aquilo que os possa macular, certos de que isto seja o bastante para assegurar-lhes um lugar no reino de Deus.

Texto de apoio: E DEPOPIS?
Um homem de negócios americano, no ancoradouro de uma aldeia da costa mexicana, observou um pequeno barco de pesca que atracava naquele momento trazendo um único pescador. No barco, vários grandes atuns de barbatana amarela. O americano deu os parabéns ao pescador pela qualidade dos peixes e perguntou-lhe quanto tempo levara para pescá-los.
- Pouco tempo, respondeu o mexicano.
Em seguida, o americano perguntou por que é que o pescador não permanecia no mar mais tempo, o que lhe teria permitido uma pesca mais abundante.
O mexicano respondeu que tinha o bastante para atender às necessidades imediatas da sua família.
O americano voltou a carga:
- Mas o que é que você faz com o resto do seu tempo?
O mexicano respondeu:
- Durmo até tarde, pesco um pouco, brinco com os meus filhos, tiro a siesta com a minha mulher, Maria, vou todas as noites à aldeia, bebo um pouco de vinho e toco violão com os meus amigos. Levo uma vida cheia e ocupada, senhor.
O americano assumiu um ar de pouco caso e disse:
- Eu sou formado em administração em Harvard e poderia ajudá-lo. Você deveria passar mais tempo a pescar e, com o lucro, comprar um barco maior. Com a renda produzida pelo novo barco, poderia comprar vários outros. No fim, teria uma frota de barcos de pesca. Em vez de vender pescado a um intermediário, venderia diretamente a uma indústria processadora e, no fim, poderia ter sua própria indústria. Poderia controlar o produto, o processamento e a distribuição. Precisaria deixar esta pequena aldeia costeira de pescadores e mudar-se para a Cidade do México, em seguida, para Los Angeles e, finalmente, para Nova York, de onde dirigiria a sua empresa em expansão.
- Mas, senhor, quanto tempo isso levaria? - perguntou o pescador.
- Quinze ou vinte anos - respondeu o americano.
- E depois, senhor?
O americano riu e disse que essa seria a melhor parte.
- Quando chegar a ocasião certa, você poderá abrir o capital da sua empresa ao público e ficar muito rico. Ganharia milhões.
- Milhões, senhor? E depois?
- Depois - explicou o americano - você reformava-se. Mudar-se-ia para uma pequena aldeia costeira, onde dormiria até tarde, pescaria um pouco, brincaria com os netos, tiraria a sesta com a esposa, iria à aldeia todas as noites, onde poderia beber vinho e tocar violão com os amigos...
- Mas senhor, eu já faço isso!


2º MOMENTO: “cochilaram todas e adormeceram”: a vida parece uma espécie de sono. Distraímo-nos facilmente, esquecidos de nosso real objetivo ao reencarnar. Mesmo que pareçam estarem dormindo, as virgens prudentes estão espiritualmente em vigília. Possuem a receptividade necessária e estão com as suas lâmpadas cheias de óleo, prontas para serem incendiadas. Conscientes da presença de Jesus, mesmo em plena noite. As insensatas permanecem alheias, envoltas em trevas, dormem física e espiritualmente, e tem as suas candeias incompletas. Levam suas lâmpadas sem ou com pouco azeite. Com a candeia mal provida, no meio da noite não há mais luz, dei¬xando seus portadores mergulhados na mais densa escuridão.
Texto de apoio: A Serpente e o Pirilampo
Uma vez uma serpente começou a perseguir um pirilampo. Cheio de medo, o pirilampo fugia rapidamente, mas a serpente continuava atrás dele sem desistir. E isto durou e durou até que no terceiro dia de perseguição o pirilampo, já sem forças, resolveu parar e perguntou à serpente:
- Posso fazer-te três perguntas?
- Não costumo abrir esse precedente, mas já que te vou devorar, podes perguntar...
- Pertenço à tua cadeia alimentar ?
- Não.
- Fiz-te algum mal?
- Não.
- Então porque queres acabar comigo?
- Porque não suporto ver você brilhar...

“Eis o noivo!”: e tudo aquilo que Jesus representa.

Texto de apoio: UM SIMPLES CONSELHO, história de autoria ignorada do livro Dicionário da Alma.
Certa vez um jovem muito rico foi procurar um rabi para lhe pedir um conselho.
Toda sua fortuna não era capaz de lhe proporcionar a felicidade tão sonhada.
Falou da sua vida ao rabi e pediu a sua ajuda.
Aquele homem sábio o conduziu até uma janela e pediu para que olhasse para fora com atenção, e o jovem obedeceu.
O que você vê através do vidro, meu rapaz? Perguntou o rabi.
Vejo homens que vêm e vão, e um cego pedindo esmolas na rua, respondeu o moço.
Então o homem lhe mostrou um grande espelho e novamente o interrogou: o que você vê neste espelho?
Vejo a mim mesmo, disse o jovem prontamente.
E já não vê os outros, não é verdade?
E o sábio continuou com suas lições preciosas:
Observe que a janela e o espelho são feitos da mesma matéria prima: o vidro.
Mas no espelho há uma camada fina de prata colada ao vidro e, por essa razão, você não vê mais do que sua própria pessoa.
Se você se comparar a essas duas espécies de vidro, poderá retirar uma grande lição.
Quando a prata do egoísmo recobre a nossa visão, só temos olhos para nós mesmos e não temos chance de conquistar a felicidade efetiva.
Mas quando olhamos através dos vidros limpos da compaixão, encontramos razão para viver e a felicidade se aproxima.
Por fim, o sábio lhe deu um simples conselho:
Se quiser ser verdadeiramente feliz, arranque o revestimento de prata que lhe cobre os olhos para poder enxergar e amar os outros. Eis a chave para a solução dos seus problemas.
Se você também não está feliz com as respostas que a vida tem lhe oferecido, talvez fosse interessante tentar de outra forma.
Muitas vezes, ficamos olhando somente para a nossa própria imagem e nos esquecemos de que é preciso retirar a camada de prata que nos impede de ver a necessidade à nossa volta.
Quando saímos da concha de egoísmo, percebemos que há muitas pessoas em situação bem mais difícil que a nossa e que dariam tudo para estar em nosso lugar.
E quando estendemos a mão para socorrer o próximo, uma paz incomparável nos invade a alma.
É como se Deus nos envolvesse em bênçãos de agradecimento pelo ato de compaixão para com seus filhos em dificuldades.
Ademais, quem acende a luz da caridade, é sempre o primeiro a beneficiar se dela.
E a caridade tem muitas maneiras de se apresentar:
Pode ser um sorriso gentil...
Uma palavra que anima e consola...
Um abraço de ternura...
Um aperto de mão...
Um pedaço de pão...
Um minuto de atenção...
Um gesto de carinho...
Uma frase de esperança...
E quem de nós pode dizer que não necessita ou nunca necessitará dessas pequenas coisas?


“Então elas se levantaram”:e se preparam, cada uma usando de seus recursos.

“Dai-nos do vosso azeite”: as virtudes são intransferíveis, devendo cada um de nós cultivá-las com seus recursos pessoais. Experiência e conhecimento são conquistas, não dádivas.

“as nossas lâmpadas estão se apagando”: elas acendem, mas apagam. É uma chama vacilante.

“comprai para vós”: há um custo para a demora, para o atraso. Ter que sair para comprar tem conseqüência direta no desfecho da parábola.

“fechou-se a porta”: fechou-se um ciclo, uma existência, surpreendendo-nos de fora. No momento preciso, estávamos desprovidos do azeite.

“Senhor, Senhor”: não seremos reconhecidos como aqueles que fazem a vontade do Pai.

“vigiai, porque não sabeis nem o dia, nem a hora”: é preciso ter azeite, inclusive para reposição. É preciso estar preparado para os tempos que se aproximam.


3º MOMENTO: VIGIAR e ORAR

Vigiar e orar são a mesma coisa. E é por isso que os verbos estão juntos. O que nos possibilita vigiar é o ato de orar. Quando oramos, estamos em contato com um universo além de nossa compreensão, possibilitando criar o ambiente necessário para que a espiritualidade atue. E quando colocarmos a oração no nosso dia-a-dia viveremos conectados com a espiritualidade maior. Quando assim permanecermos, o estado de alerta passará a ser natural. Permitindo-nos esta naturalidade, a mera presença de algo diferente gera em nós a reação necessária. E quanto mais em paz alguém está, mais alerta fica.

Em várias momentos Jesus ressaltou a importância da vigilância.

O QUE É A VIGILÂNCIA e O QUE ELA NOS POSSIBILITA?

1. Ficar de prontidão.

2. Reflexão e conhecimento de nós mesmos.

3. Manter a conexão com a espiritualidade.

4. Manter a situação sob controle.

5. Estar consciente de nossa realidade.

6. Estar preparado.

7. Ter estratégias.

8. Ter iniciativa.

9. Saber discernir.

10. Ter auto-controle.

A vigilância requerida por Jesus era em benefício dos próprios discípulos, para que conseguissem suportar o que estava para acontecer. Jesus estava instruindo-os como deveriam proceder em seus momentos finais. Mas esse texto é lido como um teor de ameaça. Talvez seja por reconhecermos que passamos horas com os joelhos dobrados (simbolicamente falando), mas na primeira oportunidade em que temos de colocar em prática o que pedimos em oração, mentimos, xingamos, roubamos, adulteramos, caluniamos, odiamos, somos desonestos, e depois ainda indagamos: Senhor, Senhor?


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