quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Parábolas de Jesus - CONFIANÇA

O JUIZ e a VIÚVA Lc 18:2-8

Havia em certa cidade um juiz que não temia a Deus, nem respeitava os homens.

Havia também naquela mesma cidade uma viúva que vinha a ele, constantemente, dizendo: Faze-me justiça contra o meu adversário.

E por algum tempo não quis atendê-la; mas depois disse consigo: Ainda que não temo a Deus, nem respeito os homens,

todavia, como esta viúva me incomoda, julgarei a sua causa, para que ela não continue a vir molestar-me com suas visitas.

Presta atenção ao que diz este juiz injusto.

E não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que dia e noite clamam a ele, mesmo que seja demorado a atendê-los?

Eu vos digo que ele fará justiça em favor delas depressa. E, quando o Filho do homem vier, achará fé na terra?

Em 18:1, Lucas está nos orientando sobre o significado original da parábola, pois como se trata de um juiz, relacionam esta parábola com justiça. Lucas fala:”Ele estava contando uma parábola sobre o dever de sempre orar e não desanimar”.

Os fiéis devem ser persistentes na oração, não apenas em relação a intervenção decisiva de Deus na história, mas eles devem busca-lo mesmo que nossa confiança vacilar.

1º MOMENTO: os personagens da parábola.

O JUIZ: presente desde o Antigo Testamento. O juiz é uma pessoa que representa o certo, a honestidade, é o representante do homem nas questões de justiça. Mas este juiz da parábola não se importa nem com Deus, nem com os homens. É um juiz sem princípios e sem fé. Nada o envergonha e não há honra para qual se possa apelar. O grito: “pelo amor de Deus” de nada adiantará. O clamor: ”Por justiça a esta viúva desamparada” será inútil.

A VIÚVA: no Antigo Testamento é símbolo dos inocentes e oprimidos. Mas não é sinônimo de idosa. As meninas se casavam com 12, 13 anos e muitas ficavam viúvas ainda jovens, ou seja, lúcidas, ativas, capazes de trabalhar. A mulher judia é modesta e fica dentro de casa. Se esta mulher é que fala é porque está inteiramente só, sem nenhum homem na família para defendê-la. Ela tinha direitos legais que estavam sendo violados. Seu pedido é por justiça e proteção e não vingança.

A viúva permanece na certeza de que tem direito e razão e repete ao juiz dia após dia: “faze-me justiça”. Ela não se incomoda com a opinião dos outros nem com os insultos e palavras sarcásticas do juiz.

CONVICÇÃO de que é na constância, na persistência que reside sua força.

CONSCIENTE de que sua posição é justa, não é ela que tem de mudar.

TENACIDADE na forma de ação não-violenta.

Texto de apoio: A SENTENÇA CRISTÃ, do livro Alvorada Cristã, c.32, onde Jesus nos explica o comportamento que se espera de uma autoridade.

Um juiz cristão, rigoroso nas aplicações da lei humana, mas fiel no devotamento ao Evan­gelho, encontrando-se em meio duma sociedade corrompida e perversa, orou, implorando a pre­sença de Jesus.

Tantas sentenças condenatórias devia pro­ferir diàriamente, que se lhe endurecera o co­ração.

Atormentado, porém, entre a confiança que consagrava ao Divino Mestre e as acusações que se acreditava compelido a formular, rogou, certa noite, ao Senhor, lhe esclarecesse o espírito angustiado.

Efetivamente, sonhou que Jesus vinha des­fazer-lhe as dúvidas aflitivas. Ajoelhou-se aos pés do Amoroso Amigo e perguntou:

Mestre, que normas adotar perante um homicida? Não estará lõgicamente incurso nas penas legais?

O Cristo sorriu, de leve, e respondeu:

Sim, o criminoso está condenado a rece­ber remédio corretivo, por doente da alma.

O juiz considerou estranha a resposta; con­tudo. prosseguiu indagando:

Como agir, ante o delinqüente rude, Se­nhor?

Está condenado a valer-se de nosso auxílio, através da educação pelo amor paciente e construtivo — explicou Jesus, bondoso e calmo.

Mestre, e que corrigenda aplicar ao pre­guiçoso?

Está condenado a manejar a enxada ou a picareta, conquistando o pão com o suor do rosto.

Que farei da mulher pervertida? — in­terrogou o jurista, surpreso.

Está condenada a beneficiar-se de nosso amparo fraterno, a fim de que se reerga para a elevação do trabalho e para a dignidade hu­mana.

Senhor, como julgar o ignorante?

Está condenado aos bons livros.

E o fanático?

Está condenado a ser ouvido e interpre­tado com tolerância e caridade, até que aprenda a libertar a própria alma.

Mestre, e que diretrizes adotar, ante um ladrão?

— Está condenado à oficina e à escola, sob vigilância benéfica.

E se o ladrão é um assassino?

Está condenado ao hospício, onde se lhe cure a mente envenenada.

O magistrado passou a meditar gravemente e lembrou-se de que deveria modificar todas as peças do tribunal, substituindo a discriminação de castigos diversos por remédio, serviço, fraternidade e educação. Todavia, não se sentindo bem com a própria consciência, endereçou ao Senhor suplicante olhar, e perguntou, depois de longos instantes:

Mestre, e de mim mesmo, que farei?

Jesus sorriu, ainda uma vez, e disse, sereno:

O cristão está condenado a compreender e ajudar, amar e perdoar, educar e construir, distribuir tarefas edificantes e bênçãos de luz renovadora, onde estiver.

Nesse momento, o juiz acordou em lágrimas e, de posse da sublime lição que recebera, reconheceu que, dali em diante, seria outro homem.

2º MOMENTO: o juiz e a viúva.

por algum tempo não quis atendê-la”: podemos identificar três possíveis motivos: ela não pagou ou não subornou este juiz; o juiz já fez sua escolha e prefere favorecer o adversário que pagou ou tem influência; o juiz sabe que ela não tem como pagar a causa e lhe é vantajoso deixar o outro ganhar a causa. Mas ela não desanima. Movida por fé e perseverança que vão levar ao êxito.

disse consigo”: ele não teme a Deus e sabe que ninguém pode exigir dele qualquer atitude. Refletindo consigo, o juiz conclui que continua o mesmo, sem dar importância a Deus e aos homens. É um egocêntrico. O juiz também se mantém com a mesma determinação sobre sua postura. Talvez ele pensasse baseado na sua própria experiência e em outros casos semelhantes, que a viúva logo iria desistir. Passa-se o tempo e, por rotina ou desinteresse, permanece negligente no assunto.

me incomoda” e “não continue a vir”: o juiz percebe que esta mulher não vai desistir. O texto indica a extensão a que a persistência dela o irritou, inflexível e determinada em pedir. Pouco a pouco, o juiz começa a pensar como vai sair desta situação. Ele não agüenta mais. Não tem pena da viúva, não se importa com a lei de Deus e, ainda por cima, tem outros casos com que se preocupar, possivelmente mais proveitosos. O grito da viúva e sua atitude insistente são mais fortes do que sua falta de princípios éticos e religiosos.

3º MOMENTO: Texto de apoio: VISÃO da VIDA, recebido por e.mail, sem autor.

Solução ou problema?

Aonde você vê OBSTÁCULO, alguém vê o término de uma viagem e outro percebe a chance de crescer.

Aonde você vê MOTIVO PARA SE IRRITAR, alguém vê tragédia total e outro percebe uma prova para paciência.

Aonde você vê FORTUNA, alguém vê riqueza material e outro percebe uma oportunidade para ampliar benefícios.

Aonde você vê TEIMOSIA, alguém vê IGNORÂNCIA e outro percebe As limitações do companheiro.

Aonde você vê A MORTE, alguém vê o fim e outro percebe o começo de uma nova etapa.

Esta viúva é uma mulher num mundo de homens. Sem dinheiro e sem amigos poderosos. Não tem como apelar ao senso de dever com Deus para este juiz, que não se envergonha de qualquer ato mal que venha fazer contra inocentes. Ela consegue sua audiência e que a causa seja julgada em seu favor.

O juiz muda de atitude, mas não de intenção. Faz justiça a viúva, mas não se faz justo diante de Deus. Muda o comportamento, mas não o sentimento. Não faz o mal, mas faz mal o bem. Não é a virtude que o leva a decidir em favor da viúva, mas seu egoísmo. Para ele justiça é instrumento de poder, não de serviço.

4º MOMENTO: “Presta atenção”. Lucas nos traz esta frase enfática no versículo 6 e devemos realmente entender o porquê.

Presta atenção ao juiz que teve a mudança conquistada por causa da viúva que não retrocedeu em seu empenho. Presta atenção, pois a perseverança na súplica pode conquistar um coração frio e endurecido. Presta atenção que a fragilidade pode triunfar sobre a prepotência. Presta atenção, pois a atitude final do juiz vai me servir de modelo para falar da justiça de Deus para com os seus seguidores.

5º MOMENTO: conclusão.

Se um juiz injusto faz contra a sua vontade justiça a viúva insistente, será que Deus não fará justiça de boa vontade pelo que lhe pedem? O que o homem faz por egoísmo e conveniência, não o fará Deus por amor e compaixão? Não estamos apelando para um juiz enfadado, mas para um Pai amoroso. Embora a sua situação seja desencorajadora e desesperada, não será tão ruim quanto desta viúva. E Deus agirá tendo em vista o melhor para nós. Uma oração confiante é solução para o medo que rouba sua tranqüilidade e, desta forma, suportará tudo. A oração e a ação devem ser orientadas pelas atitudes: constantes, persistentes, pacientes, em movimento.

Texto de apoio: O PIOR INIMIGO, do livro Alvorada Cristã, c.22

Um homem, admirável pelas qualidades de trabalho e pelas formosas virtudes do caráter, foi visto pelos inimigos da Humanidade que conhecemos por Ignorância, Calúnia, Maldade, Discórdia, Vaidade, Preguiça e Desânimo, os quais tramaram, entre si, agir contra ele, con­duzindo-o à derrota.

O honrado trabalhador vivia feliz, entre familiares e companheiros, cultivando o campo e rendendo graças ao Senhor Supremo pelas ale­grias que desfrutava no contentamento de ser útil.

A Ignorância começou a cogitar da perse­guição, apresentando-o ao povo como mau observador das obrigações religiosas. Insulava-se no trato da terra, cheio de ambições desmedidas para enriquecer à custa do alheio suor. Não tinha fé, nem respeitava os bons costumes.

O lavrador ativo recebeu as notícias do adversário que operava, de longe, sorriu calmo e falou com sinceridade:

— A Ignorância está desculpada.

Surgiu, então, a Calúnia e denunciou-o às autoridades por espião de interesses estranhos. Aquele homem vivia, quase sôzinho, para melhor comunicar-se com vasta quadrilha de ladrões. O serviço policial tratou de minuciosas averigua­ções e, ao término do inquérito vexatório, a ví­tima afirmou sem ódio:

— A Calúnia estava enganada.

E trabalhou com dobrado valor moral.

Logo após, veio a Maldade, que o atacou de mais perto. Principiou a ofensiva, incendiando-lhe o campo. Destruiu-lhe milharais enormes, prejudicou-lhe a vinha, poluiu-lhe as fontes. Todavia, o operário incansável, reconstruindo para o futuro, respondeu, sereno:

— Contra as sombras do mal, tenho a luz do bem.

Reconhecendo os perseguidores que haviam encontrado um espírito robusto na fé, instruíram a Discórdia que passou a assediá-lo dentro da própria casa. Provocações cercaram-no de todos os lados e, a breve tempo, irmãos e amigos da véspera relegaram-no ao abandono.

O servo diligente, dessa vez, sofreu bastante, mas ergueu os olhos para o Céu e falou:

— Meu Deus e meu Senhor, estou só, no entanto, continuarei agindo e servindo em Teu Nome. A Discórdia será por mim esquecida.

Apareceu, então, a Vaidade que o procurou nos aposentos particulares, afirmando-lhe:

— És um grande herói... Venceste afli­ções e batalhas! Serás apontado à multidão na auréola dos justos e dos santos!...

O trabalhador sincero repeliu-a, impertur­bável:

— Sou apenas um átomo que respira. Toda glória pertence a Deus!

Ausentando-se a Vaidade com desaponta­mento, entrou a Preguiça e, acariciando-lhe a fronte com mãos traiçoeiras, afiançou:

— Teus sacrifícios são excessivos... Vamos ao repouso! Já perdeste as melhores forças!...

Vigilante, contudo, o interpelado replicou sem hesitar:

— Meu dever é o de servir em benefício de todos, até ao fim da luta.

Afastando-se a Preguiça vencida, o Desâ­nimo compareceu. Não atacou de longe, nem de perto. Não se sentou na poltrona para conversar, nem lhe cochichou aos ouvidos. Entrou no coração do operoso lavrador e, depois de instalar-se lá dentro, começou a perguntar-lhe:

— Esforçar-se para quê? servir porquê? Não vê que o mundo está repleto de colaborado­res mais competentes? que razão justifica tama­nha luta? quem o mandou nascer neste corpo? não foi a determinação do próprio Deus? não será melhor deixar tudo por conta de Deus mesmo? que espera? sabe, acaso, o objetivo da vida? tudo é inútil... não se lembra de que a morte destruirá tudo?

O homem forte e valoroso, que triunfara de muitos combates, começou a ouvir as interrogações do Desânimo, deitou-se e passou cem anos sem levantar-se...

6º MOMENTO: Por que Jesus está tão desanimado ao final da parábola? Os tempos da Paixão está há poucos versículos desta passagem. Os inimigos de Jesus estão reunindo forças, o ambiente é tenso e de medo. Jesus e seu pequeno grupo enfrentam rejeição e hostilidade intensificadas. Seus discípulos aguardam recompensas e compensações, respostas e consolo. Com a pergunta: “o Filho do homem achará fé?”, Jesus questiona a qualidade da fé deste grupo, pois terão eles a disposição de suportar tudo como a mulher da parábola?

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