sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Parábolas de Jesus - LIVRE ARBÍTRIO

FILHO PRÓDIGO Lc 15:11-30

Certo homem tinha dois filhos. O mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me cabe. Repartiu-lhes, pois, os seus bens entre eles.

Poucos dias depois, o filho mais moço ajuntando tudo, partiu para um país distante, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente.

E, quando ele já havia gasto tudo, houve naquela terra uma grande fome, e ele começou a passar necessidades.

Então ele foi e juntou-se a um dos cidadãos daquele país, que o mandou para os seus campos para alimentar porcos.

E ele alegremente teria comido as vagens que os porcos comiam; e ninguém lhe dava nada.

Caindo, porém, em si, disse: Quantos empregados de meu pai têm pão de sobra, mas eu aqui pereço de fome!

Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e direi: Pai pequei contra o céu e diante de ti e já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus empregados.

Levantou-se, pois, e foi para seu pai. Estando ele ainda longe, seu pai o viu, encheu-se de compaixão e, correndo, se lançou ao pescoço do filho e o beijou.

E o filho lhe disse: Pai pequei conta o céu e diante de ti e não sou digno de ser chamado teu filho.

Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa e vesti nele, e colocai um anel no dedo e sapatos nos pés,

E trazei também o bezerro cevado e matai-o e comamos e alegremo-nos, porque este meu filho estava morto, e reviveu, estava perdido, e foi achado. E eles começaram a festejar.

Ora, o filho mais velho estava no campo e quando voltava, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e a dança; e chamou um dos servos e perguntou o que significava aquilo.

Respondeu-lhe este: Chegou teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado porque o recebeu são e salvo.

Mas ele ficou indignado e não queria entrar. Saiu então o pai implorou a ele.e

Mas ele respondeu ao seu pai: Eis que há tantos anos te sirvo, e nunca desobedeci as tuas ordens, contudo nunca me deste um cabrito para eu festejar com os meus amigos,

Quando veio, porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens com as meretrizes, mataste para ele o bezerro cevado.

E o pai lhe disse: Filho querido, tu sempre estás comigo, e tudo o que é meu é teu.

Era justo, porém, regozijarmo-nos e alegrarmo-nos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; estava perdido e foi achado.

Esta parábola é grande e possui vários aspectos para serem analisados e, por isso mesmo, iremos falando frase por frase. Você pode usar como apoio LE 614 e 634, 843 a 850 e ESSE c.XIV.

Temos três personagens: o Pai, o filho mais novo e o filho mais velho.

1º MOMENTO: conhecer os personagens.

O Pai apresenta as melhores qualidades e disposição de ser protetor, atencioso, paciente, bondoso e, acima de tudo, misericordioso. Seu objetivo principal é transformar SERVOS em FILHOS. Mais do que pessoas responsáveis e trabalhadoras, este Pai quer uma sintonia de sentimentos, onde o amor rege a relação e, por isso mesmo, qualquer tipo de serviço é feito com boa-vontade.

O filho mais novo representa o SER. Seu livre-arbítrio está recém desperto e ele quer experimentar viver de sua própria maneira. No início da parábola percebemos seu egoísmo exagerado e sua aparente indiferença. Como este filho é inexperiente, suas ações refletirão dor e sofrimento, onde seu livre-arbítrio se manifesta, principalmente, de maneira negativa. É preciso vivência para fazer escolhas acertadas, mas com Doutrina Espírita percebemos que erros, na verdade, são valiosas oportunidades de experiência e não mais fardos pesados e culpados de se carregar. Através do erro-acerto vamos conhecendo a nós mesmos e nos aceitando como falíveis, mas também possíveis de crescimento.

O filho mais velho representa o TER. Seu livre-arbítrio está estagnado, ele não tem intenção de modificar qualquer situação de sua vida atual. Este filho aguarda recompensas pela tarefa cumprida. Faz comparações, se julga melhor, não manifesta sua responsabilidade de irmão mais velho. Em seu silêncio demonstra seu orgulho e prepotência.

2º MOMENTO: o filho mais novo. Texto de apoio: SONHOS

Alguém teve um sonho.

Alguém pensou: Por que não?

Alguém disse: Vai em frente!

Alguém gritou: Vou conseguir!

Alguém trouxe uma pedra.

Alguém convocou outros.

Alguém plantou um jatobá.

Ninguém sabia ainda, mas estava nascendo ali uma cidade...

Adaptação do texto de Francisco Gomes de Matos, do livro Visão e Parábolas.

Sonhar é essencial. Querer a felicidade já é ser feliz. Um sonho pode até ficar na fantasia, mas quando dois sonham juntos, a obra se faz.

“O mais moço disse dá-me a parte dos bens que me cabe.”: o mais novo antecipa um pedido de herança, embora pareça que o pai goze de boa saúde, como se dissesse “não posso esperar até que você morra!” Isto nos indica que o relacionamento entre pai e filho não é dos melhores. Algo inquieta o filho que quer partir. Espera-se que o pai demonstre sua decepção e discipline o rapaz pelas cruéis implicações do seu pedido. Mas o pai concorda, demonstrando a qualidade de seu amor. O filho mais velho nada faz nada para impedir a divisão da herança não aceitando sua parte ou reconciliar seu irmão com seu pai, falhando com ambos.

O Pai percebe que este é o momento em que o mais novo vai iniciar a fase de sua adolescência.

O mais novo desperta para o segundo estágio de sua evolução, de criança inexperiente para jovem experiente.

O mais velho permanece dependente e estagnado.

partiu para um país distante“: desta forma, não seria julgado pelas suas atitudes.

desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente.”: a vida do pródigo é descuidada e esbanjadora, sem se prevenir de eventuais problemas, como de fato acontece “houve naquela terra uma grande fome”

“e ele começou a passar necessidades.”: ele, mais do que os outros, pois é um estrangeiro, um judeu em um país distante e estranho, sem dinheiro e sem amigos.

“Então ele foi e juntou-se a um dos cidadãos daquele país”: o pródigo se junta a um da região, que tem posses, alimento. Ele havia chegado com dinheiro e, consequentemente, com prestígio, o que o tornou conhecido de alguns.

”que o mandou para os seus campos para alimentar porcos”: a fome abate seu orgulho e ele aceita cuidar de porcos. Para um judeu, isto é humilhante, pois cuidar de porcos é para os gentios.

alegremente teria comido as vagens que os porcos comiam”: não recebia o suficiente para se alimentar. Este local deveria estar cheio de outras pessoas que aceitavam qualquer coisa, pois em tempos de fome a mão-de-obra é abundante. Se os porcos forem mortos, os donos comem a melhor parte e os empregados ficam com as partes menos desejáveis. Mas o pródigo é um judeu de família nobre, incapaz de comer porco mesmo morrendo de fome. As vagens de alfarrobeira, com que alimentavam os porcos, não tem valor nutritivo. Existem dois tipos de alfarrobeira: uma muito doce, usada pelos pobres que a mascam como a cana-de açúcar, comestível e nutritiva; e outra, selvagem, espinhosa e de sabor desagradável, só se come dela em casos de dificuldade ou penúria.

“caiu em si”: refletindo, cria um ambiente em si para nova mudança.

“Levantar-me-ei”: reconsidera sua situação e arrepende-se. Qual seria sua motivação? O limite de suas forças? De seus recursos? Da falta do dinheiro? Remorso? O importante é a vontade de reparação. Veja LE 386, 387 e 389. Jesus nos diz: Há mais alegria nos céus por um pecador que se regenera do que por 99 justos que perseveram.

“irei ter com meu pai e direi”: o pródigo pensa uma forma de voltar e, trabalhando e sendo tratado como um dos empregados, estaria propondo uma solução, vivendo como um homem livre, tendo sua própria renda, independente na sua região e podendo pagar o que esbanjara. Pode estar dizendo: não sou inútil e vou compensá-lo com trabalho.

Voltar para aldeia e não para o lar. Com a sua volta e o pródigo trabalhando como assalariado, não precisará comer do mesmo pão que o irmão mais velho. Em relação a sua aldeia, que ele ofendeu com sua atitude, resolvido o problema com seu pai e seu irmão, é uma questão de tempo. Ele perde tudo para os gentios, fracassando num país distante e não volta vitorioso. Mas quer recuperar e compensar.

“Estando ele ainda longe, seu pai o viu, encheu-se de compaixão e, correndo, se lançou ao pescoço do filho e o beijou”: o pai sabe como a aldeia o receberá, o filho terá que lidar com o ódio de uma cidade inteira e a reunião de um grupo hostil, ansioso por humilhá-lo, pois este pródigo rejeitou esta comunidade. Para evitar tudo isso, sai correndo estrada afora, indo buscar o filho, fazendo a reconciliação pública, demonstrando um cuidado e proteção ao filho e, principalmente, a aceitação de sua volta.

Jesus aqui demonstra de maneira vigorosa o amor do Pai por nós. Não há palavras. Os atos do pai dispensam palavras. Não há discurso moral. O amor expresso é profundo demais para ser dito, só atos conseguem demonstrar. O amor do Pai sempre foi profundo e duradouro e nossa volta é sempre bem-vinda. Este é um Deus que quer mais ação do que adoração.

Com o beijo no rosto, o pai está afirmando o seu perdão. O filho é quem deveria beijar a mão ou o pé do pai, mas este nem espera e publicamente estabelece a reconciliação.

“E o filho lhe disse”: o filho assustado, surpreso, responde com o discurso preparado, MAS sem a última parte do trabalho assalariado. Ele percebe que o problema não é o dinheiro perdido, mas o relacionamento interrompido. Após ele assistir a demonstração de amor do Pai, compensar com trabalho é um absurdo.

Mas o pai disse aos seus servos”: o pródigo é recebido com honras. Com os servos e a multidão vendo tudo, o pai manda vestir em seu filho a melhor roupa, assegurando assim, quando todos vierem para ouvir o relato de viagem e da volta, a evidência da reconciliação com o filho perante a comunidade. Ordem de o vestir como o fazem a um rei, implicando em um respeito apropriado por parte dos servos. Não é dito ao filho para ir lavar-se e mudar de roupa. O anel é o sinal de confiança, de herdeiro. Os sapatos comprovam que este filho é um homem livre na casa e não um servo.

trazei também o bezerro”: um bezerro, e não um cabrito ou uma ovelha, mostrando que grande parte da aldeia estará presente naquela noite. A carne se estragaria em poucas horas se poucas pessoas estivessem presentes. A alegria é compartilhada com muitos.

este meu filho estava morto, e reviveu, estava perdido, e foi achado.“: o servo se torna filho. Se o pai agisse de outra forma, recuperaria um servo assalariado e nenhum filho.

3º MOMENTO: o filho mais velho. Texto de apoio: TEMPO

Qualquer dia

Vou limpar minha mesa,

Arrumar meus livros,

Por ordem em minha cabeça.

Qualquer dia,

Vou reunir minha equipe,

Vamos estabelecer metas,

Organizar o trabalho,

Disciplinar o tempo...

Qualquer dia

Direi para o meu grupo

“hoje são homens livres,

Podem errar,

Porque só quem erra acerta...”

Qualquer dia

Mostrarei que sou gente,

Que se esforça,

Que se cansa,

Que desanima e se anima,

Que cai e se levanta,

Que crê

E acredita.

Qualquer dia,

Qualquer dia...

Adaptação do texto de Francisco Gomes de Matos, do livro Visão e Parábolas.

O tempo está a nossa disposição e, como bem gratuito, não se tem uma estratégia racional para utilizá-lo eficazmente. Prioridades relevantes são proteladas para “qualquer dia” e, por falta de percepção de importância, podem se transformar em “nunca”.

o filho mais velho perguntou o que significava aquilo.”: está claro que há uma celebração acontecendo na casa e este filho mais velho não foi notificado. Se aproxima e pede explicações a um menino. Ciente agora da festa, ao invés de estar ansioso para participar, de correr para dentro de casa, manifesta desconfiança. É de sua responsabilidade como mais velho verificar como anda a festa, cumprimentar a todos em nome da família, ver se todos foram servidos, se há bebida suficiente.

“ele ficou indignado e não queria entrar”: decide não entrar, pois senão estará se juntando a todos em honrar ao pródigo.

Saiu então o pai implorou a ele”: pela segunda vez, agora com o outro filho, faz uma demonstração de amor. É razoável esperar que esta demonstração de amor tenha efeito semelhante sobre o filho mais velho como teve no mais moço. O pai queria ver sua alegria completada pela presença de seus dois filhos.

ele respondeu ao seu pai”: humilhando-o publicamente, discutindo enquanto os convidados ainda estão presentes. Pelo costume, ele deveria participar da festa e depois resolver o problema com o pai. Chama de “teu filho” ao invés de “meu irmão” mostrando a falta de sintonia entre eles.

“Eis que há tantos anos te sirvo”: se comporta como servo e não como filho. Ele se preocupa com disputas e favoritismos, esperando recompensas pelo seu serviço.

E o pai lhe disse”: o pai, mais uma vez, se mostra conciliador. Não grita, não repreende, mesmo podendo sentir desgosto ou punir a insolência, ignorar e continuar na festa ou ficar furioso.

tudo o que é meu é teu”: frase tranqüilizadora, dizendo claramente que a volta do pródigo não afetava seus direitos, reafirmando que ele é herdeiro e não se encontra numa posição de assalariado.

este teu irmão estava morto, e reviveu; estava perdido e foi achado”: ternamente o pai faz o filho lembrar-se de que o pródigo é seu irmão. Não faz explicações ou defesas. Demonstra amor. Este pai é o único que tem condições de colocar o filho para retomar sua caminhada, de lhe restituir os tesouros esbanjados.

4º MOMENTO: conclusão.

Jesus está nos mostrando dois tipos de homens: um é ausente e rebelde fora de casa, outro age assim em seu coração enquanto dentro de casa. O mais novo diz tudo o que vai em seu coração. O mais velho esconde seus sentimentos. Ambos partem para um país distante, sendo um fisicamente e outro, espiritualmente. Ambos são rebeldes e partem o coração do pai. O mesmo amor inesperado é demonstrado para os dois. Bastaria esta oferta de amor para que servos se tornem filhos.

Na parábola somos levados a nos identificar com os filhos e não com o pai. Cada um precisa decidir qual será a sua reação. A parábola está inacabada. Não há conclusão. Ora nos rebelamos e seguimos nosso caminho, quebramos a cara e retornamos como o mais novo. Em outros momentos somos aqueles que nunca se afastam, mas não se tornam íntimos, como o mais velho. Precisamos agora nos tornar como o Pai, que acolhe, guia e se alegra. Recebidos de braços abertos, não nos pergunta aonde fomos, nem o que fizemos, basta que retornemos.

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