terça-feira, 24 de abril de 2012

MEIOS de COMUNICAÇÃO


O ESTRANHO
Alguns anos depois que nasci, meu pai conheceu um estranho, recém-chegado à nossa pequena cidade.
Desde o princípio, meu pai ficou fascinado com este encantador personagem, e em seguida o convidou a viver com nossa família.
O estranho aceitou e desde então tem estado conosco.
Enquanto eu crescia, nunca perguntei sobre seu lugar em minha família; na minha mente jovem já tinha um lugar muito especial.
Meus pais eram instrutores complementares:
Minha mãe me ensinou o que era bom e o que era mau e meu pai me ensinou a obedecer.
Mas o estranho era nosso narrador.
Mantinha-nos enfeitiçados por horas com aventuras, mistérios e comédias.
Ele sempre tinha respostas para qualquer coisa que quiséssemos saber de política, história ou ciência.
Conhecia tudo do passado, do presente e até podia predizer o futuro!
Levou minha família ao primeiro jogo de futebol.
Fazia-me rir, e me fazia chorar.
O estranho nunca parava de falar, mas o meu pai não se importava.
Às vezes, minha mãe se levantava cedo e calada, enquanto o resto de nós ficava escutando o que tinha que dizer, mas só ela ia à cozinha para ter paz e tranquilidade. (Agora me pergunto se ela teria rezado alguma vez, para que o estranho fosse embora).
Meu pai dirigia nosso lar com certas convicções morais, mas o estranho nunca se sentia obrigado a honrá-las.
As blasfêmias, os palavrões, por exemplo, não eram permitidos em nossa casa… Nem por parte nossa, nem de nossos amigos ou de qualquer um que nos visitasse. Entretanto, nosso visitante de longo prazo, usava sem problemas sua linguagem inapropriada que às vezes queimava meus ouvidos e que fazia meu pai se retorcer e minha mãe se ruborizar.
Meu pai nunca nos deu permissão para tomar álcool. Mas o estranho nos animou a tentá-lo e a fazê-lo regularmente.
Fez com que o cigarro parecesse fresco e inofensivo, e que os charutos e os cachimbos fossem distinguidos.
Falava livremente (talvez demasiado) sobre sexo. Seus comentários eram às vezes evidentes, outras sugestivos, e geralmente vergonhosos.
Agora sei que meus conceitos sobre relações foram influenciados fortemente durante minha adolescência pelo estranho.
Repetidas vezes o criticaram, mas ele nunca fez caso aos valores de meus pais, mesmo assim, permaneceu em nosso lar.
Passaram-se mais de cinquenta anos desde que o estranho veio para nossa família. Desde então mudou muito; já não é tão fascinante como era ao principio.
Não obstante, se hoje você pudesse entrar na guarida de meus pais, ainda o encontraria sentado em seu canto, esperando que alguém quisesse escutar suas conversas ou dedicar seu tempo livre a fazer-lhe companhia...
Seu nome?
Nós o chamamos Televisor...
Agora tem uma esposa que se chama Computador
e um filho que se chama Celular !







Conte a história para seu grupo.
Antes de chegar ao final, você pode deixar o grupo tentar adivinhar quem é este "estranho"...

Peça para que o grupo relacione numa lista programas de TV e filmes que assistiram durante a semana.
Quais programas retrataram questões importantes? quais retrataram situações de paz? e de violência?
Estamos conscientes do conteúdo dos meios de comunicação? eles me trazem escolhas conscientes?
Selecionamos o que vamos assistir? ou vou pela onda, pela massa, por aquilo que dizem ser bom?
Como cada um se sente ao testemunhar situações de violência repetidamente?
Quais as influências disto para nossa saúde mental e emocional? e individual, familiar e coletiva?

A natureza humana é essencialmente amorosa. Nos relacionamos através do amor nos mais variados níveis:
quando crianças, ao precisarmos de afeto para nossa saúde e segurança; quando adolescentes para fazermos escolhas acertadas e consolidarmos nossa personalidade;
quando adultos para completarmos e fecharmos ciclos, administrar perdas e ganhos;
quando mais velhos na avaliação de nossa vida e preocupação para a morte.

Por que, então, fala-se mais da violência do que da paz?



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